Por Padre José Luiz Gonzaga do Prado
Os textos bíblicos deste domingo:
1a. Leitura (Jr 1,4-5.17-19) O jovem Jeremias sente o chamado de Deus, as dificuldades da missão de profeta, mas também o apoio e segurança que lhe vêm do mesmo Deus.
Salmo (71 [70],1-6.15.17) No Salmo cantamos a confiança em Deus de quem lhe é fiel.
2a. Leitura (1Cor 12,31-13,13) Depois de comentar os valores, significado e dificuldades dos dons carismáticos, Paulo fala agora do caminho sem defeitos e superior a todos.
3a. L. Evangelho (Lc 4,21-30) Jesus na sua terra fala com clareza do seu programa e da falta de fé dos seus conterrâneos. Querem matá-lo, mas ele segue em frente.
HOMILIA
A Realidade
Pe. Lourenço Rosembaugh, americano, dos Oblatos de Maria Imaculada, por ter protestado contra a guerra do Vietnã, ficou preso por dois anos. Em 1975 veio para o Brasil e foi viver com moradores de rua no Recife. Foi preso e torturado. Só não foi morto por pressão diplomática dos EEUU. Doente, voltou aos Estados Unidos. Aí foi preso novamente por divulgar a última homilia de Dom Oscar Romero. Mais tarde foi para El Salvador a fim de viver entre os pobres. Teve de se afastar. Depois voltou à América Latina, para a Guatemala, e, aí, foi morto dia 18 de março de 2009.
A Palavra
É incômodo ser profeta, profeta incomoda. Na primeira leitura de hoje o jovem Jeremias sente o chamado de Deus, as dificuldades da missão de profeta, mas também o apoio e segurança que lhe vêm do mesmo Deus.
No Evangelho, Jesus, na sua terra, dizia que vinha trazer a Boa Notícia para os pobres, anunciar o jubileu. A reação dos conterrâneos começa com admiração pela fala agradável de Jesus.
Logo em seguida vem o espanto: “Esse aí não é o filho de José?”. Lucas, que começou seu Evangelho falando do nascimento virginal de Jesus e diz que ele “era considerado filho de José”, aqui não faz questão desse porém. Os conterrâneos continuam enganados quanto à verdadeira identidade de Jesus.
Jesus se antecipa e, antes que o questionem, ele fala de Cafarnaum. Cafarnaum, onde foram feitos muitos milagres de Jesus, era uma cidade impura, ali viviam muitos gentios. Mas ele vai além, fala de milagres feitos pelos famosos profetas Elias e Eliseu em favor de não-israelitas. Ele também veio para os não israelitas, o profeta não tem pátria, é de todos.
Do espanto, os conterrâneos de Jesus passam à indignação. Entendem o significado universal da sua missão e pretendem jogá-lo no buracão. Mas, como verdadeiro profeta, “passando pelo meio deles, Jesus seguiu seu caminho”.
O Mistério
Na Eucaristia celebramos o gesto profético supremo da coerência até à morte e morte de cruz, única capaz de abrir caminho para a mesa comum. “Comungar é tornar-se um perigo”, é participar da coerência profética, que denuncia o mundo estruturado sobre a desigualdade e vence o espírito de competição, “tira o pecado do mundo”.
Padre José Luiz Gonzaga do Prado (86 anos), mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico em Roma. Atuou em trabalhos de tradução nos Evangelhos de Marcos e de Mateus para as Bíblias Pastoral, da CNBB, Nova Bíblia Pastoral e revisão da Bíblia na Linguagem de Hoje.