Por Padre José Luiz Gonzaga do Prado
Os textos bíblicos deste domingo:
1a. Leitura (1Sm 26, 2.7-9.12-13.22-23) Uma história das guerras de Davi vem mostrar que em vez de agressão, o respeito ao adversário pode ser arma mais forte.
Salmo (103 [102],1-4.8.10.12-13) No Salmo cantamos a misericórdia de Deus.
2a. Leitura (1Cor 15,45-49) Paulo fala da Ressurreição. Notar que a palavra corpo para ele é a pessoa humana toda, não simplesmente o elemento material, oposto à alma ou ao espírito, como nós pensamos.
3a. Evangelho (Lc 6,27-38) Para vencer este mundo governado pela competição, pela lei do mais forte, comandado pela violência, como deverá agir o discípulo de Jesus?
HOMILIA
A Realidade
Ainda no tempo do regime militar, em São Paulo, os operários pretendiam fazer uma passeata com manifestações para reivindicar direitos seus. O regime, através de seu preposto, o governador Paulo Maluf, iria mandar a polícia impedir a passeata e as manifestações. Que fazer? Enfrentar a polícia seria provocar um massacre. Pe. Domingos Barbé do Movimento “Não-Violência Ativa” ajudou. Preparou os operários para vencer a violência com a não-violência. À frente da passeata foram mães levando seus filhos nos braços e oferecendo flores aos policiais que vinham, armados até os dentes, impedir a movimentação. Não sabendo mais o que fazer, os policiais foram recolhidos aos quartéis e a passeata seguiu em frente.
A Palavra
A primeira Leitura é das histórias de Davi. Saul queria matá-lo. À noite ele entra no acampamento de Saul, encontra o rei dormindo profundamente, tendo a seu lado a lança e sua bilha de água. Davi não mata o rei seu inimigo, apenas leva sua lança e sua bilha e, depois, grita de longe para que todos os que dormiam no acampamento fiquem sabendo que ele entrou lá e não matou Saul.
No Evangelho estão as palavras de Jesus que causam dificuldade para muita gente: como oferecer a outra face, se o outro já te bateu? Mas, se você também bate, está dando razão para ele, está dando razão para a violência, fica apenas uma dúvida: quem é mais violento? O mais violento é que parece vencer. Parece, porque apenas abafa a violência mais fraca que, abafada, pode crescer e se fortalecer e voltar mais tarde.
A violência só se vence com o amor. Não há outra solução. O violento só vai reconhecer que estava errado se, em troca, receber sinceros amor e carinho.
O Mistério
A Eucaristia celebra Jesus que aceita ser vítima da violência para tirar do mundo a lei da violência, a lei do mais forte. Quando ele disse “tenho sede” de amor, recebeu o vinagre do ódio gratuito e ele, então, reconheceu: “Está terminado”, não falta mais nada, morro por quem me odeia sem motivo. Essa morte é que abre o caminho da comunhão.
Padre José Luiz Gonzaga do Prado (86 anos), mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico em Roma. Atuou em trabalhos de tradução nos Evangelhos de Marcos e de Mateus para as Bíblias Pastoral, da CNBB, Nova Bíblia Pastoral e revisão da Bíblia na Linguagem de hoje.