Por padre José Luiz Gonzaga do Prado
Os textos bíblicos deste domingo:
1a. Leitura (Eclo 27,5-8) Nós temos nesta leitura um pouco da sabedoria dos antigos. Fala do cuidado que devemos ter ao julgar os outros.
Salmo (92 [91],2-3.13-16) No Salmo cantamos a oração de uma pessoa de consciência tranquila.
2a. Leitura (1Cor 15,54-58) Paulo termina aqui a sua fala sobre a nossa fé na ressurreição e suas consequências no dia a dia.
3a. Evangelho (Lc 6,39-45) Nós temos no Evangelho de hoje mais dois pensamentos importantes do grande sermão de Jesus, um sobre o julgamento alheio e outro sobre os que têm a pretensão de serem guias do povo.
HOMILIA
A Realidade
Ele era o coordenador, o chefe. Só ele sabia como as coisas deviam ser feitas, só ele entendia, só ele enxergava. Qualquer opinião que alguém desse, sua resposta era sempre a mesma: “Você ainda não entendeu nada! Não vai dar certo, está tudo errado! Desse jeito não serve!” e frases semelhantes. Tudo ele criticava e não admitia erro de ninguém. Ficou sozinho. Não viu que o pior erro foi o seu.
A Palavra
As palavras de Jesus aqui colecionadas se completam e se esclarecem. O guia cego é aquele que acha que só ele enxerga, enquanto os outros todos são cegos. O guia cego é aquele que vê cisco nos olhos de todos, só não vê a trave que está no seu. O guia cego é aquele que sabe tudo e sabe melhor do que todos, melhor até do que o próprio Jesus Cristo, é o guia que não tem guia, é o mestre que não precisa de mestre.
A boca fala daquilo que está no coração, no interior da pessoa, de acordo com o que ela tem em sua cabeça. Se a pessoa só fala do lado mau ou ruim é porque no seu coração, dentro dela, só há pensamentos ruins e negativos. Ninguém colhe figos das “unhas de gato”, nem uvas das urtigas. Por outro lado, quem só vê o lado bom das pessoas e de suas propostas tem a bondade dentro de si mesmo, como da árvore boa só saem frutos bons.
Nem basta orar e orar muito, cansar-se de dizer “Senhor, Senhor!”, é preciso agir como o Senhor manda. Não basta fazer como subalternos que elogiam e elogiam, prestam homenagens mais homenagens aos chefes, mas nunca fazem o que eles mandam. O que importa é agir como o Senhor Jesus.
O Mistério
O que foi dito na liturgia da Palavra é celebrado agora na liturgia Eucarística. Jesus, como ele mesmo diz no Evangelho de João, não veio para condenar o mundo, mas para que a humanidade fosse salva por ele. Ele não veio condenar os pecadores, veio dar a vida para tirá-los do pecado, veio “dar o sangue para a remissão dos pecados”.
Quantas vezes o momento da Comunhão é o momento de uns condenarem os outros: “Que é isso? fulano ou fulana está comungando?!”. A partilha de Jesus se chama “comunhão” e não “discriminação”. Não é hora de separar os “bons” de um lado e os “maus” do outro. É hora de unir em comunhão.
Só podemos estar sendo condenados com este mundo quando queremos reproduzir na Ceia do Senhor o modelo de discriminação que governa o nosso mundo.
Padre José Luiz Gonzaga do Prado (86 anos), mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico em Roma. Atuou em trabalhos de tradução nos Evangelhos de Marcos e de Mateus para as Bíblias Pastoral, da CNBB, Nova Bíblia Pastoral e revisão da Bíblia na Linguagem de hoje.