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LUCAS RICARDO É O ÚNICO MEMBRO BRASILEIRO DO CONSELHO INTERNACIONAL DA JUVENTUDE DO VATICANO.

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ENTREVISTA

Lucas Ricardo Marçal Ramos, 25 anos, nasceu em Poços de Caldas (MG). Desde pequeno sempre foi atuante na comunidade paroquial Nossa Senhora Aparecida. Ajudou como acólito e era frequente no grupo de jovens.

Em 2014 entrou para o Seminário São José da Diocese de Guaxupé (MG), onde permaneceu por um ano. Decidido à se dedicar a Igreja de uma outra forma, Lucas Ricardo começou a participar de alguns encontros de formação e preparação do projeto de voluntariado internacional da Comunidade Terapêutica Fazenda da Esperança, chamado “Espalhando a Esperança”. A Comunidade Fazenda da Esperança tem como missão dar assistência a pessoas com problemas com drogas e álcool, além de realizar trabalhos caritativos.

Em 2015 foi enviado para Argentina, onde permaneceu por um ano e meio desenvolvendo o trabalho de ajudar no cuidado e na recuperação de jovens com problemas com drogas e o álcool.

Retornando ao Brasil, cursou Filosofia na Faculdade Dehoniana em Taúbate (SP). Em 2020 foi responsável pela comunidade terapêutica masculina de Guaratinguetá (SP) e atualmente colabora com os projetos de missões internacionais da Fazenda da Esperança.

Em 2019, foi enviado à Roma para representar a Fazenda da Esperança no Fórum Internacional da Juventude que aconteceu em junho de 2019. Desde então, foi escolhido como membro permanente do Conselho Internacional da Juventude do Vaticano.

O Katholika conversou com Lucas Ricardo para ouvir um pouco sobre a sua experiência com a juventude e sobre como tem sido representar o Brasil nesse conselho tão importante. Acompanhe a entrevista:

KATHOLIKA: Qual o trabalho que você desenvolve na Fazenda da Esperança?

Conheci a Fazenda da Esperança em 2015 por meio de um projeto de voluntariado internacional chamado ‘Espalhando Esperança’ que convida os jovens para fazerem uma experiência de convivência em uma das unidades da Instituição. Naquele ano fui para Argentina, a princípio por 4 meses, mas acabei permanecendo por um ano e meio, ajudando em tudo o que era necessário. Logo depois, retornei ao Brasil para fazer a faculdade de Filosofia e colaborar no escritório central da Fazenda da Esperança, como responsável pelo projeto de voluntariado e ao mesmo tempo cuidar de um grupo de 20 jovens que estavam em recuperação. Durante o ano de 2020, a diretoria geral da Fazenda me designou para assumir a responsabilidade de toda a unidade ‘Centro Masculino’ em Guaratinguetá (SP). Neste ano estou colaborando no escritório internacional da Fazenda da Esperança monitorando os missionários que estão no Brasil e no exterior.

 

KATHOLIKA: Qual a sua relação com a juventude?

Desde os tempos em que eu participava das atividades da paróquia, sempre procurei estar envolvido em atividades da Pastoral da Juventude, sobretudo em 2013 por ocasião da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Foi um momento muito especial na minha vida. Na Fazenda, como responsável pelo projeto de voluntariado, me esforcei para levar a proposta missionária a muitos jovens. Comecei a participar de algumas atividades no Santuário de Aparecida e da Pastoral Juvenil do Brasil. Em junho de 2018, participei de um encontro de preparação da Jornada Mundial da Juventude no Panamá e me comprometi em organizar um grupo de 70 pessoas para este grande evento no qual fui convidado para representar o Brasil na via sacra e assumir uma das Paróquias de Catequese na língua portuguesa. Atualmente continuo participando das formações e atividades do setor ‘movimentos’ da Pastoral Juvenil do Brasil.

KATHOLIKA: Como você chegou até o Organismo Consultivo Internacional dos Jovens do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida do Vaticano?

Em 2019, a Fazenda da Esperança me designou para representá-la no Fórum Internacional da Juventude que aconteceu em junho daquele ano em Roma. Éramos mais de 250 jovens de 100 países diferentes. Foi uma experiência única na minha vida. Vi que em todas as partes do mundo, dentro e fora da Igreja, diversos jovens assumem a liderança e estão empenhados em mostrar como a Juventude é importante para Deus, para Igreja e toda a sociedade. Não tenho dúvidas que o momento que mais traduziu isso foi quando anunciaram que o Papa queria se encontrar e abraçar cada um dos jovens que estavam naquele encontro. Eu não podia acreditar e até hoje procuro guardar em meu coração o que vivemos naqueles dias. Quando retornei para casa, voltei com o grande entusiasmo de fazer com que a Exortação Christus Vivit (que é o documento escrito após o encontro do papa com os jovens) pudesse chegar ao maior número de jovens possível. Alguns meses depois, fiquei mais surpreso ainda. Eu estava trabalhando e recebi um e-mail dizendo que eu havia sido nomeado para compor o Organismo Internacional da Juventude. Fui à capela rezar e depois procurei os responsáveis pela Fazenda. Decidimos juntos assumir esse compromisso, pois a nossa missão é levar a esperança a todas as pessoas e sinto que neste momento histórico, ainda mais, nossos jovens estão precisando.  

KATHOLIKA: Quais são as principais preocupações e discussões deste órgão consultivo?

O Organismo Internacional da Juventude tem como principal missão desempenhar um papel consultivo e apresentar propostas, colaborando com o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (Dicastério é o nome dado aos departamentos do Vaticano que trata de assuntos específicos, como, neste caso, sobre a juventude) no aprofundamento de temas relacionados à juventude, e outros temas de interesse mais gerais. Estava planejado um primeiro encontro em abril de 2020, entretanto, devido a pandemia não foi possível.  Tivemos que descobrir novos modos para iniciar os trabalhos. Praticamente, a cada 2 meses nos encontramos de forma online para discutir certas temáticas e, também, para momentos de espiritualidade. Um dos principais trabalhos que já fizemos foi o desenvolvimento de uma plataforma online que irá interligar todas as Comissões para a Juventude do mundo, se chama “Synact” (em tradução livre podemos entender como ‘sínodo em ação’).  

KATHOLIKA: Qual a situação da atuação dos jovens nos demais países representados pelo Órgão Consultivo Internacional?

Cada um dos membros do Organismo possui um dom e uma característica especial. Isso faz com que possamos experimentar a beleza da unidade em tanta diversidade. É muito bonito, em tão pouco tempo e, até mesmo sem podermos nos encontrar pessoalmente, já temos um clima muito especial de família, sinto que somos irmãos, verdadeiros amigos. Temos total consciência de que não iremos resolver todos os problemas que a Igreja enfrenta com a juventude, mas temos muita esperança de que a novidade desse Organismo possa ser uma possibilidade dos próprios jovens apresentarem para a Igreja o seu ponto de vista diante dessas situações.

KATHOLIKA: Quais suas perspectivas e desafios na atuação e situação dos jovens na Igreja hoje?

Fico muito incomodado quando vejo um jovem que não é feliz, parado, sem sonhos, sem disposição para desafios… isso não combina com a juventude. Meu maior desejo é ajudar para que muitos jovens possam fazer uma experiencia pessoal com Deus, pois só Ele é capaz de dar sentido na vida dos nossos jovens, de responder os questionamentos desta etapa da vida, de ser presença para aqueles que se sentem sozinhos e isto não se faz somente com oração, é preciso prática e criatividade. Nossos jovens sentem a necessidade, hoje, de se sentirem queridos, acompanhados e amados pela Igreja e seus representantes. Como sempre o Papa faz questão de lembrar, os jovens não são o futuro, não devem ficar para depois, eles são o agora e o presente de Deus! É preocupante na sociedade civil quando não há políticas públicas que cuidem dos nossos jovens, quando na formação dos futuros padres não há uma abordagem sobre juventude, quando as famílias vão se fragmentando, quando os próprios jovens perdem o sentido da vida e optam pelo suicídio como solução rápida e eficaz dos seus problemas. Tudo isso é um desafio do tempo presente e é a partir deles que os jovens devem dar os primeiros passos. Nunca vou me esquecer a frase que li de Santo Agostinho e que me impulsiona em tudo aquilo que vou fazer: “a esperança tem duas filhas – a indignação e a coragem: a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão e a coragem, a mudá-las”. O jovem, dentro e fora da Igreja, tem uma importância que precisa ser mais valorizada.  

KATHOLIKA: Quais serão os próximos passos do conselho consultivo internacional?

Seguimos trabalhando de forma online, mas assim que for possível temos programado um encontro presencial em Roma para nos conhecermos melhor e construir juntos esses próximos passos.

KATHOLIKA: Qual conselho você daria para a juventude que ainda não conseguiu se identificar com a Igreja?

Na verdade, a movimentação deve acontecer nos dois sentidos. Não é somente o jovem que precisa identificar-se com a Igreja, mas a Igreja também precisa revestir-se da fisionomia do jovem. Ao mesmo tempo que devemos cuidar daqueles que já estão envolvidos pela Igreja, também se faz necessário ir atrás daqueles que se afastaram por diversos motivos. Ora, não é este o mandato do Bom Pastor? deixar as 99 e ir atrás daquela que se afastou? Temos como grande impulso o Sínodo (que é uma reunião onde há vários participantes como contribuintes) da Juventude que aconteceu alguns anos atrás e o fruto deste encontro que é a Exortação Christus Vivit. É um documento belíssimo, uma carta destinada a todos os jovens do mundo inteiro. Se é para dar conselho: este é um ótimo conselho de leitura para a juventude e para aqueles que por missão tem a responsabilidade de acompanhá-los.