Pedro recebeu a missão de conservar o que se anuncia. Paulo recebeu a missão de anunciar o que deve ser conservado.
Assim reza o prefácio da missa da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo: “Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o evangelho da salvação”. Pedro, com André, seu irmão e seu velho pai, Jonas, passava os dias na rotina da pesca no Lago da Galileia. Todo dia a mesma coisa: lançar as redes, esperar, recolhê-las com os peixes. Uma vida monótona, mas segura e digna. Pedro deixou tudo, podia ser pouco, mas era tudo o que ele tinha e o que ele era, para atender o convite de Jesus que um dia o surpreendeu: “Vinde e eu vos farei pescadores de homens” (Mt 4,19). Foram ele, seu irmão e seus companheiros para enfrentar uma nova forma de viver que nem sequer sabiam claramente qual seria.
Pedro simplesmente confiou na palavra do Senhor. Assim ele disse quando pensava em desistir: “Senhor, trabalhamos a noite toda e nada pescamos, mas por causa da tua palavra vamos lançar novamente as redes” (Lc 5,5). Este parece ser o resumo da história da vida de Pedro que também afirmou certa vez: “Para onde iremos, Senhor. Só tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68). Pedro seguiu Jesus pelas montanhas e férteis vales da Galileia, pelas terras desérticas da Judeia, fraquejou na paixão, mas confessou o amor imenso por Cristo três vezes, por exigência do próprio Senhor, após sua ressurreição. Recebeu com temor e tremor o poder das chaves e a incumbência de confirmar os irmãos na fé. Graças a Pedro a Igreja é Apostólica. Graças a Pedro a Tradição Apostólica se manteve através dos seus sucessores: o Bispo de Roma, hoje o Papa Francisco.
Paulo, um sábio conhecedor das escrituras judaicas, era filho de um rico judeu de Tarso e seguia devotamente a lei judaica, mesmo sendo cidadão romano. Perseguia o cristianismo, a nova religião, que ele considerava uma seita judaica até ser derrubado do cavalo, a caminho de Damasco. Ele assustou-se com a voz potente do Senhor: “Saulo, Saulo, porque me persegues”! (At 9,4). Que maravilhosa interrupção de um itinerário que possibilitou outro itinerário! Paulo percorreu o mundo, expondo-se a todos os perigos, anunciando apaixonadamente Cristo aos pagãos. Realizou a missão de romper a barreira do antigo Israel e graças a ele, a Igreja é Católica, pois transbordou para todas as nações.
Paulo encontrava-se em Jerusalém no dia da morte de Jesus e, depois da sua vocação, percorreu o mundo conhecido da época e acabou por encontrar-se com Pedro em Roma, ao qual obedeceu, mesmo com discordâncias, unindo-se definitivamente pelo martírio a Pedro durante a perseguição de Nero por volta do ano 64. Pedro e Paulo selaram definitivamente, com heroísmo, a fidelidade de ambos a Cristo, cada um a seu modo. Diferentes e complementares!
A Igreja é tecida com as mesmas características de Pedro e de Paulo. A Igreja não seria Igreja de Cristo sem Pedro. E não seria Igreja de Cristo sem Paulo. Pedro, pastor e rocha, símbolo vivo da Tradição. Paulo, missionário e profeta, símbolo vivo da catolicidade. Pedro recebeu a missão de conservar o que se anuncia. Paulo recebeu a missão de anunciar o que deve ser conservado. Pedro é a imagem do Poder na Igreja exercido com humildade e capacidade de escuta. Paulo é a imagem do carisma onde viceja a vida protegida pela obsequiosa obediência.
Temperamentos diferentes, responsabilidades diferentes, mas Pedro e Paulo se complementam em tudo. Resolvem suas diferenças porque o propósito é o mesmo, o amor é o mesmo, a fé é a mesma. No centro de tudo está Cristo, seu Evangelho e sua soberania. Nossa Igreja hoje, feita de “pedros” e de “paulos”, só superará seus conflitos internos se, tanto um lado quanto o outro, amarem exclusivamente a Cristo e se forem fiéis a ele. A unidade prevalecerá se ambos os lados o tiverem como único Senhor, viverem o seu Evangelho e anunciarem o Reino de Cristo e não os reinos deste mundo. Pedro e Paulo se unem para a glória do Senhor e para realizar o seu projeto: “Um só rebanho, um só Pastor” (Jo 10, 16); um rebanho que cresce com a missão de Paulo e se mantém unido com a missão de Pedro.
Pe. José Cândido
Pe. José Cândido é pároco da Paróquia São Sebastião - Região Centro - Sul, de Belo Horizonte, MG, e Redator Chefe do Katholika.