A doença celíaca é uma enfermidade autoimune, causada pela intolerância ao glúten, que é uma proteína encontrada no trigo, na aveia, no centeio, na cevada e no malte. A ingestão do glúten na dieta causa uma reação inflamatória na mucosa do intestino delgado, que pode gerar atrofia, entre outras complicações, como o risco de linfoma intestinal.
Considerada a mais comum das intolerâncias alimentares induzida geneticamente, a doença celíaca, por razões desconhecidas, tem aumentando significativamente sua incidência nas últimas décadas, conforme mostra um estudo publicado em 2021, na revista Gastroenterology (1).
O único tratamento para a doença é uma dieta livre de glúten e, quando não tratada, é associada ao aumento da mortalidade devido ao alto risco de malignidade.
O glúten é um dos componentes do pão feito de trigo e, portanto, do Pão Eucarístico, que mesmo consagrado, mantém todas as características de pão, mudando somente a sua substância.
A Igreja Católica Apostólica Romana não considera possível que a farinha sem glúten produza o pão correto para a Eucaristia; portanto, para os fiéis católicos que não podem receber a comunhão sob a forma de Pão Eucarístico, a Igreja também permite que a comunhão seja recebida sob a forma única de vinho, conforme esclarece a Carta do então Cardial Ratzinger, aos Presidentes das Conferências Episcopais, 19 de junho de 1995(2). Ainda, em relação ao consumo do vinho por crianças e por pessoas que também necessitam de restrição do álcool, é permitido usar o suco de uva fresco.
No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou um documento de “Orientações Pastorais sobre o acesso das pessoas celíacas à Comunhão Eucarística”, no qual, é sugerido uma “organização litúrgica que inclua procedimentos adequados às necessidades das pessoas celíacas, para que elas não venham a sofrer discriminação e se sintam plenamente acolhidas e integradas na vida da Igreja”(3).
Entre as orientações está a obtenção de cálices especiais para comunhão na espécie do vinho, que devem ser purificados e conservados separadamente daqueles utilizados por sacerdotes ou ministros, a fim de evitar a contaminação com glúten que, por ventura, tenha sido consumido nos mesmos. O fiel também pode possuir seu próprio cálice, conservado em sua casa e levado ao altar no momento da apresentação das oferendas.
Diagnosticada com a doença celíaca desde 2015, recebo o Preciosíssimo Sangue de Jesus, assegurada de que participo do sacrifício do Nosso Senhor; me sinto acolhida e apoiada pelo pároco da minha paróquia, Pe. Reinaldo Marques Rezende, que na caminhada de fé, nos ensina a importância do cuidado com a saúde e a valorização da vida como princípios de fé.
Erika de Cássia Lopes Chaves
Referências consultadas:
- LEBWOHL B; RUBIO-TAPIA A. Epidemiology, Presentation, and Diagnosis of Celiac Disease. 2021 Jan;160(1):63-75. doi: 10.1053/j.gastro.2020.06.098. Epub 2020 Sep 18. Disponível aqui.
- Carta aos Presidentes das Conferências Episcopais sobre o uso do pão com pouca quantidade de glúten e do mosto como matéria eucarística Prot. N. 89/78. Cidade do Vaticano, 19 de Junho de 1995. Disponível aqui.
- Orientações pastorais sobre o acesso de pessoas celíacas à comunhão eucarística. Brasília, 16 de junho de 2016. Disponível aqui.
Erika Chaves é enfermeira. Doutora em Enfermagem Fundamental. Docente na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG. É Ministra Extraordinária da Comunhão Eucarística.