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APOLO E DIONÍSIO, RAZÃO E SENSIBILIDADE

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Dionísio era uma divindade da mitologia grega filho de Zeus com a princesa Sêmele. Seu equivalente na mitologia romana era Baco. Apolo era a outra divindade da mitologia grega, filho também de Zeus e da deusa Leto. Seu equivalente na mitologia romana era Febo.


Quem pensa que a mitologia é uma crendice sem importância está enganado. A mitologia foi precursora da filosofia e, contemporaneamente, das ciências do comportamento humano, a psicanálise e a psicologia. A mitologia consiste em projeções do inconsciente coletivo da humanidade, seus desejos mais profundos e incontroláveis, suas pulsações, por vezes inconfessáveis. São famosos os estudos de Nietsche, Martin Heidegger, Michel Foucault, Gilles Deleuze e, ultimamente, Camille Paglia sobre o significado, para a cultura humana, dos relatos mitológicos, tais como o mito de Édipo, Dionísio e Apolo.


O que é apolíneo e dionisíaco? Apolo é o Deus da beleza masculina, com traços milimetricamente proporcionais, representando a ordem, a harmonia e a razão. Apolo define o conceito aristotélico de beleza como a suma perfeição das formas tal como encontramos nos pintores da renascença como o Davi de Miquelângelo Buonarotti. Uma civilização ou uma cultura apolínia é a civilização da racionalidade, da ordem e da beleza, onde cada elemento sabe o seu lugar na sua relação com o todo. Não se admitem improvisações, exageros, concessão aos instintos e aos impulsos. Já Dionísio é o seu oposto. Uma civilização ou cultura do caos, da desordem e da deformidade. Tudo se movimenta ao sabor dos instintos, e dos impulsos. Por isto, Dionísio na mitologia romana é substituído por Baco, Deus da bebedeira, das orgias, dos bacanais, dos carnavais dos excessos.


Cada cultura, cada pessoa, já carrega no seu germe, no seu DNA, na sua origem uma tendência quase inata para o lado de Dionísio ou de Apolo. O Brasil poderia ser um exemplo modelar de cultura dionisíaca e os países nórdicos de cultura apolínea. O dionisíaco gosta de festa e tem dificuldade em se dedicar à fadiga do estudo e do trabalho. Por outro lado, vive com intensidade cada dia como se não existisse amanhã. A arte e a literatura dionisíaca não gostam de regras e sobriedade, mas o exagero de expressões e cores. Tudo o que é apolíneo é bem-comportado e tudo do dionisíaco poderia ser compreendido como caótico. A cultura contemporânea, ao contrário do renascimento, tende mais para o dionisíaco do que para o apolíneo.


Termino com uma questão básica: não deveríamos unir o apolíneo e o dionisíaco na nossa vida? Um seria como instância reguladora do outro: disciplina com criatividade, razão com sensibilidade, o lúdico com a dedicação e persistência, o presente vivido com intensidade, mas com um futuro planejado. Os brasileiros não poderiam se germanizar um pouco e os alemães não poderiam se abrasileirar também, mas só mesmo um pouquinho?

Pe. José Cândido da Silva é Pároco em São Sebastião, Região Centro-Sul de Belo Horizonte e Editor Chefe do Katholika.