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A APOSTA DE PASCAL

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O mês de novembro começa com o dia de Todos os Santos e Finados que nos estimula a refletir sobre a fé em um Deus que nos criou para a Vida Eterna. O argumento de Blaise Pascal (1623 +1662) sobre a fé, chamado de “Aposta”, vem de encontro às nossas interrogações sobre nossas origens e nosso destino definitivo.


Pascal, matemático e apologista católico francês, raciocina a partir da perspectiva do agnosticismo, ou seja, daqueles que consideram impossível o conhecimento de Deus ou das realidades que não podem ser comprovadas pela observação científica. Deus escapa aos limites da razão humana é o agnosticismo cristão. Não são necessariamente militantes ateístas, mas raciocinam da seguinte forma: “Se Deus existe, não consigo provar sua existência”.


Pascal, abandonou a pretensão de provar a existência de Deus e do sobrenatural e argumentou a partir de uma aposta. O argumento na sua “reductio ad minimum” (redução ao mínimo) se baseia numa aposta aqui simplificada.


a) Quem crê em Deus e vive de acordo com a sua fé, pratica sua religião, procura amar desinteressadamente, tem uma vida de fraternidade neste mundo, após a morte inevitável, ainda ganhará o céu. Mesmo que não houvesse céu, sua vida de doação seria luminosa pois o amor generoso sempre dá sentido à vida humana impulsionada pela fé em Deus.


b) Quem não crê em Deus, vivendo sem fé e sem ideal para além do visível, com uma vida voltada para si próprio, ou para alguma ideologia terrena, após a morte inevitável, para ele tudo se dissolve no nada. E, se Deus existir e houver céu, será uma tremenda frustração ao perceber que perdeu a oportunidade de se ver enriquecido pela fé.


Em outras palavras ganha a aposta quem crê, porque, de qualquer forma sua vida terrena foi valiosa porque viveu a provisoriedade na perspectiva do sentido de algo maior. Como conclusão podemos afirmar que o cristianismo humaniza a vida neste mundo e diviniza a vida após a morte. Ninguém ao final da vida se arrependerá de ter vivido como um bom cristão, mas o incrédulo, mesmo que não admita, olhará arrependido sua vida pregressa se vivida egoisticamente e sem um sentido para além do horizonte terreno. Pascal, na sua obra “Pensées” (Pensamentos), produz um diálogo fecundo com os não crentes. Ele se coloca no lugar deles. “Devemos ter piedade dos incrédulos: são bastante infelizes pela sua condição. Só se deveria injuriá-los se isso lhes pudesse ser útil: mas isso lhes é nocivo”. Mas também afirma: “Que pelo menos procurem conhecer a religião que combatem, antes de combatê-la”.


Pascal argumenta unicamente a partir da fé cristã. Reconhece que a fé é um dom teologal e que nenhum itinerário racional, – ele viveu numa época de racionalismo dogmático, – poderia conduzir à fé. A fé que nos é dada se aprofunda pelas suas raízes cristãs nas Escrituras Sagradas. Por isto, seus últimos instantes neste mundo são um testemunho eloquente de sua profunda fé católica. Quem narra é sua irmã:


“De maneira que, quando o padre entrou no quarto com Nosso Senhor, exclamando: ‘Eis Aquele que tanto desejastes’, tais palavras acabaram de acordá-lo e o padre aproximou-se para ministrar-lhe a comunhão. Tendo sido interrogado, conforme o costume da época, sobre os mistérios fundamentais da fé (Credo), a tudo respondeu devotamente: ‘Sim, Senhor, creio nisso tudo de todo o meu coração’. A seguir recebeu o Santo Viático e a Extrema Unção tão comovidamente que vertia lágrimas. Agradeceu ao sacerdote e por fim exclamou: ‘Que o Senhor não me abandone jamais’. Estas foram suas últimas palavras”.

Assim faleceu um dos maiores pensadores do ocidente: cientista, matemático e filósofo. Termino com uma de suas frases “O PENSAMENTO FAZ A GRANDEZA DO HOMEM”.


Pe. José Cândido

Pe. José Cândido da Silva é Pároco em São Sebastião, Região Centro-Sul de Belo Horizonte e Editor Chefe do Katholika.