Caixões afundam, flores são oferecidas, tijolos deslizam, sentimentos se encontram, orações se elevam, crianças correm, muitos sentem a dor, poucos o louvor. Tantos sentimentos envolvidos, reações previstas, outras descabidas, mas o fim, sempre o fim, o mesmo.
Morte, ó morte! Só ao te encontrar, saberemos o caminho para enfrentá-la. Alguns gritam, outros choram, muitos rezam, confiam, outros temem e tremem, mas só, no extremo da morte, encontramos o sentido do viver.
Morte. Temer. Por quê? Tremer sim, caso não se tenha vivido com motivos e totalmente os momentos com as pessoas queridas. Como diria Montaigne: “A cada minuto parece-me que escapo de mim. E repito sem cessar: tudo o que pode ser feito um outro dia pode ser feito hoje. Na verdade, os acasos e perigos nos aproximam pouco ou nada de nosso fim”.
Alguns acreditam no nada, outros na atualização de vidas, outros na passagem para corpos e lugares, muitos na vida eterna. Fato para os cristãos é: “quem não teme a morte, ou melhor, quem aceita o contínuo temor diante da morte pode desfrutar do bem da vida que lhe foi designado, porque sabe que se trata de uma promessa não falaz de um futuro absoluto” (Karl Rahner).
A ciência explica até no limiar que lhe é possível a vida e a morte. Porém, quando ela se faz presente, é a fé que sustenta o fio corrompido pela humanidade e oferece esperanças, iluminando a escuridão das explicações humanas.
Onde colocar nossa confiança? Onde repousar nossa vida? Como confortar a viúva fiel? O filho que amou? O pai que se entregou? Qual motivo do acidente? Do infarto? Da queda? Da doença incurável? Do suicídio? Como sofrer? A quem recorrer? A quem desabafar? Como continuar?
São tantas as perguntas que, muitas vezes, nem as respostas mais belas e sinceras são suficientes. O tempo e o espaço da dor, do luto, do sofrimento são medidos pelo esquadro do amor vivido durante décadas ou mesmo alguns segundos.
Morte, morte, morte! Sopro para alguns, sofrida para outros, descanso para os aflitos, rápida para os inesperados, pensada por alguns, procurada por outros. Espiritual para muitos, física para todos, desejada como coroa, outras como cruz e, para maioria, motivo de escândalo. Nível único para ricos e pobres, papas e mendigos, reis ou plebeus, políticos e palhaços. Entrada para o céu, desfiladeiro para o inferno, tempo de espera e purificação, caminho de encontro.
Ó cidade dos mortos, terra santa, acalmada por cruzes, meditada por jovens, brincadeira para inocentes crianças, silêncio dos idosos, glorificada por alguns, temida por muitos. Cidade que ensina a viver entre irmãos, une famílias, encontro dos perdidos, cautela do caminhar de todos aonde um dia irão se deitar.
Escrevo com receio, com limites, com palavras, entre sentimentos humanos, perguntas feitas a todos e a mim. Qual seria a única resposta a todo esse emaranhado de perguntas? A morte de Cristo. Pela fé, creio, vivo e morro sabendo que a vida e morte foram redefinidas pelo Cristo. Quando eu me aproximar da morte, não estou me esquecendo da vida, mas encontrando-a verdadeiramente.
Pe. Rener Olegário Lopes
Pe. Rener Olegário Lopes Sacerdote da Diocese de Uruaçu, GO. Licenciado em Filosofia na FASEM, graduado em Teologia no Seminário de Brasília, Pós-graduado em Psicologia Clínica. Um jovem padre para um velho mundo.