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O CANTO LITÚRGICO

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Há vários documentos da Igreja a partir do Concílio Vaticano II que tratam da música sacra e do canto litúrgico. O primeiro, que é matriz geradora dos demais, remonta ao Papa Paulo VI. Trata-se da Instrução chamada, Musicam Sacram, datada em 5 de março de 1967. O Papa João Paulo II em 2003 e, em seguida, todos os pontífices posteriores até o Papa Francisco voltaram a abordar o mesmo tema. Isto demonstra o apreço que a Igreja Católica tem pelo canto litúrgico e pela música sacra. A CNBB também possui vários documentos sobre o tema. Destaca-se “A Música Litúrgica no Brasil” (Estudos da CNBB n. 79).


Alguns princípios são interessantes porque desconhecidos pela maior parte das nossas comunidades celebrantes. Os compositores e letristas devem observar que a base do texto a ser cantado na liturgia é a Palavra de Deus. A Escritura pode ser transcrita literalmente, principalmente os salmos que foram compostos para serem cantados, ou sempre será a fonte inspiradora para o texto usado para o canto. A música deve estar subordinada ao texto, respeitando sua cadência e sua métrica. Resumindo: no cantar litúrgico é mais importante a letra à qual a melodia serve.


Ainda para os compositores vale a regra clássica: quanto mais próxima a melodia for dos modos gregorianos, mais litúrgica ela será. É importante ressaltar que a forma litúrgica do canto dos salmos se baseia nos tons gregorianos e os salmistas devem pelo menos serem iniciados neste modo de cantar. Hoje o canto dos salmos se deteriorou de tal forma com algumas melodias tão estranhas que o canto dos salmos perdeu o seu significado.


Os modos gregorianos influenciaram bastante a música brasileira, especialmente o canto do nordeste brasileiro. Tenha-se como exemplo a beleza da melodia de “Asa Branca” ou da “Folia de Reis” (Ó Deus Salve o Oratório). Os documentos da Igreja recomendam a inculturação da música litúrgica. Os compositores brasileiros possuem um verdadeiro arsenal de fontes populares para compor músicas litúrgicas genuinamente brasileiras, contudo bem elaboradas para o decoro da Sagrada Liturgia.


Ainda que o órgão (de tubos) seja o instrumento citado por todos os documentos, no Brasil, é inacessível à maior parte das igrejas pelo alto custo de montagem e preservação. O problema maior, no entanto, é a indigência cultural em geral, e do clero, em especial. Igrejas que possuem este maravilhoso instrumento o abandonaram literalmente às traças. Claro, faltam organistas, como faltam padres que zelem realmente pelo patrimônio cultural das nossas igrejas.


A percussão em um país como o nosso é importante. No entanto, não se trata de carregar para a igreja a bateria completa com um barulho ensurdecedor. A percussão precisa ser muito discreta, marcando o ritmo sem sobressair à voz humana. No canto litúrgico a voz humana deve ser enaltecida e valorizada acima de tudo.


É bom lembrar que os coros polifônicos e o canto gregoriano, mesmo em latim, jamais devem ser abandonados nas igrejas frequentadas por assembleias aptas a compreenderem e apreciarem-nos como forma de contemplação da beleza divina que motiva ao recolhimento e convida à oração pessoal. Além dos documentos tratarem deste tema, a Instrução Musicam Sacram do Papa Paulo VI menciona os graus de importância do canto na celebração da Eucaristia.


Primeiro grau de importância: o canto dos ritos iniciais com a resposta do povo e a oração de coleta; aclamação ao Evangelho; oração sobre as ofertas e o diálogo do prefácio seguido do “Santo”; a doxologia final da Oração Eucarística, a oração do Pai Nosso com sua introdução e embolia (Livrai-nos de todos os males, ó Pai) e a conclusão: Vosso é o Reino; a Oração após a comunhão e o rito de despedida.


Segundo grau de importância: Kyrie, Glória e Cordeiro de Deus; o Credo e a Oração dos fiéis.


Terceiro grau de importância: Cantos processionais de Entrada e Comunhão, o canto para a Apresentação das Ofertas. Neste terceiro grau incluem-se também, quando possível, o canto das leituras e da Oração Eucarística.


Se houver procissão das ofertas, como é comum no Brasil, pode-se cantar um canto apropriado para o momento. Pode ser com o povo ou um canto mais elaborado para coros polifônicos, ou um instrumental. Isto vale também para a procissão de comunhão e procissão de entrada, desde que sejam adequados para o momento.
Termino com a regra de ouro do canto Litúrgico: É mais importante CANTAR A LITURGIA do que CANTAR NA LITURGIA!

 

Pe. José Cândido

Pe. José Cândido da Silva é Pároco em São Sebastião, Região Centro-Sul de Belo Horizonte e Editor Chefe do Katholika.