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LITURGIA E CULTURA

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A liturgia católica fez e faz parte integrante das mais belas expressões culturais do ocidente. Música, arquitetura, esculturas, pinturas, literatura nasceram dentro da Igreja, a partir principalmente do culto cristão, e difundiram-se por todos os lugares. As catedrais, basílicas em todo mundo e em todas as épocas ostentam o que há de mais belo e mais nobre nas expressões culturais do ocidente.


Contudo, a história da arte registra que, ao mesmo tempo, em que a fé cristã criou cultura ela também se deixou influenciar pela cultura dos povos evangelizados. A cultura é a expressão mais profunda do ser humano com seus sentimentos, suas tradições familiares e de clã. Ao penetrar no mundo anglo-saxão, por exemplo, o cristianismo assimilou sua cultura. O belíssimo estilo gótico das igrejas é originado da cultura anglo-saxã.


O barroco assume identidades culturais diferentes tais como o barroco da península ibérica, o barroco alemão e o barroco adaptado aos povos do novo continente sul-americano. O mundo moderno e contemporâneo trouxe novas concepções para o mundo das artes, da arquitetura, da música que foram sendo igualmente assimiladas pela fé cristã e pelo modo dos cristãos celebrarem sua fé pascal.


A liturgia monolítica anterior ao Concílio Vaticano II deu lugar a um maravilhoso ramalhete de cores variadas que enriquecem a única Liturgia Católica adaptando-a, nos seus aspectos acidentais, à índole de cada povo, nação e etnia. Vale ressaltar a riqueza de expressão e ao mesmo tempo de grande nobreza das celebrações coloridas e alegres dos povos africanos.


Este respeito à pluralidade de culturas sem se separar da identidade católica tem origem na Igreja desde os primórdios. No século XVI o Papa São Gregório Magno já recomendava a Santo Agostinho de Cantuária, que ele enviou para evangelizar as ilhas britânicas, para recolher as coisas belas e boas dos outros lugares e as acrescentasse à liturgia dos anglos. Por isso, e por outras coisas, o Papa Gregório é chamado de Magno.


Vale também uma expressão inspirada em Santo Ambrósio, bispo de Milão dita a Santo Agostinho de Hipona, século IV: “Em Roma como os romanos”. A versão moderna desta frase pode ser encontrada na obra da escritora britânica J. K. Rowling: “When in Rome, do as the romans do”.

 

O bom senso e a história da liturgia indicam-nos que não é justo celebrar uma liturgia europeia para uma comunidade quilombola ou comunidades simples das periferias urbanas ou campesinas brasileiras. Também o inverso é verdadeiro: não é justo impor uma liturgia indígena ou “africana” a paróquias centrais de grandes cidades para uma assembleia que não é obrigada a se identificar com estas culturas, ainda que nobres e agradáveis a Deus.


A inculturação litúrgica permitida pela Igreja é válida enquanto for um serviço à índole e cultura dos povos. Ela se torna abusiva quando o celebrante inventa formas e dizeres segundo o seu próprio arbítrio e caprichos. Ninguém, individualmente, é proprietário da liturgia. Todos somos servidores pois, a liturgia que nos chegou pela Igreja, ultrapassa nossa individualidade, nossas vaidades e idiossincrasias pessoais.


Para todas as expressões culturais só existe uma liturgia católica que, na variedade das suas expressões, mantém absoluta fidelidade às suas origens em Cristo, morto e ressuscitado. Ele instituiu os sinais sacramentais para permanecer visivelmente conosco até o fim dos tempos. Pela assembleia litúrgica congregada sob a presidência de um ministro validamente
ordenado, entramos em comunhão com o Senhor ressuscitado e com todo o corpo eclesial de hoje, de ontem e de sempre!


Esta liturgia real e verdadeira é que produz cultura porque extrai o que há de mais nobre e belo para oferecer no altar da oblação ao Senhor, suas aspirações, suas alegrias, dores; e retorna ao seio da comunidade humana cheia de beleza, de graça e de verdade!

Pe. José Cândido

Pe. José Cândido da Silva é Pároco em São Sebastião, Região Centro-Sul de Belo Horizonte e Editor Chefe do Katholika.