A via dolorosa, assim chamamos em Jerusalém o percurso que Jesus percorreu do antigo Pretório romano até o Calvário. Eu morei em Jerusalém durante quatro anos e, frequentemente fazia esse percurso. O que dizer sobre esse caminho percorrido por nosso Senhor e o que dizer sobre as pedras que o testemunham?
O percurso exato não é mais o mesmo, devido as diversas destruições que Jerusalém sofreu ao longo dos séculos pelos romanos, muçulmanos, etc. O monte, porém, está lá, o lugar do calvário e do sepulcro também. Esses lugares santos foram cobertos por uma linda basílica chamada Basílica da Ressurreição, conhecida também por Santo Sepulcro, construída por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, logo após o edito de Milão em 313.
A basílica sofreu inúmeros ataques ao longo dos séculos. Por isso, podemos dizer que toda beleza original foi perdida, mas nela permanece o testemunho da memória dos primeiros discípulos que perduram de geração em geração. Dentre eles, destaca-se a Virgem Maria, a mãe de Jesus, que após a morte e ressurreição de seu filho, percorria em sua memória frequentemente os passos dolorosos de nosso Redentor, meditando e rezando. A beata Ana Cathariana Emmerich relatou sobre o costume de contemplar a Via Sacra por nossa Senhora, até mesmo quando morava em Éfeso:
“Pouco tempo depois de chegar àquela região, eu a via diariamente caminhar até certa distância, subindo a colina atrás da casa, nessa meditação da Paixão e morte do Filho amado. A princípio ia sozinha, medindo pelo número de passos que tantas vezes contara as distâncias dos lugares onde Jesus sofrera certos tormentos. Em todos esses lugares erigia uma pedra ou, se havia ali uma árvore, marcava-a. O caminho conduzia a um bosque onde, numa elevação, marcou o Monte calvário e numa gruta de outra colina, o sepulcro de Jesus Cristo.
Depois de ter medido desse modo as doze estações da Via Sacra, percorria-a, em silenciosa meditação, acompanhada da criada; em cada estação da Paixão se sentavam, recordando no coração o mistério do respectivo sofrimento e louvando ao Senhor por seu Infinito amor, com lagrimas de compaixão. Depois arranjaram as estações ainda melhor e vi que a Santíssima Virgem escrevia com um buril, na pedra assinalada, a significação do lugar, o número dos passos, etc.
Vi também, depois da morte da Santíssima Virgem, os cristãos percorrerem esse caminho, prostrando-se por terra e beijando o chão”.
A Via Crucis é percorrida em Jerusalém pelos Frades Franciscanos Menores há séculos semanalmente. Eles cumprem assim o que Jesus disse “céus e terra passarão, mas a minha palavra não passará”. A meditação da Via Sacra é uma piedade tão santa que a Igreja, em seu depósito de graças, nos oferece indulgências, se estivermos em estado de graça e, no mesmo dia, termos participado da Santa Missa.
Leandro Cesar Bernardes Pereira. Mestre em Teologia, Bacharel em Teologia pela Faculdade de Ciências Bíblicas e Arqueologia, Jerusalém – Israel, licenciado em Filosofia, Psicólogo, especialista em Neuropsicologia e em Neurociências e Comportamento.