Por Ir. Vinícius O.Cist
No exercício da vida monástica, a prática da obediência é de suma importância, pois através dela conformamos nossa vida à de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi obediente até a morte e morte de cruz (cf. Fl 2,8). Pelo Seu exemplo, e submetendo-nos humildemente aos nossos superiores, aplicamos em nossa vida à imitação de Cristo.
No momento que emitimos nossa profissão religiosa, dizemos a seguinte fórmula ao Abade: “Meu pai, eu prometo obediência segundo a Regra de São Bento ao senhor e seus sucessores legítimos até a morte”, no caso dos professos simples o “até a morte” é substituído por “conforme as normas de nossa constituição por X anos”.
É uma experiência muito interessante a que permeia a praticidade do voto emitido, pois em meu mosteiro, no último mês de março, passamos por uma troca de superiores. O Abade de então atingiu a idade de 75 anos, o que o fez apresentar sua carta de renúncia. Com a reunião de todos os professos solenes de nossa casa, houve a eleição de um novo Abade e assim, todos os professos solenes e professos simples, de joelhos, renovaram a promessa de obediência ao novo superior.
Com essa ritualidade se estabelece a nova relação de paternidade da comunidade e, tendo a Regra de São Bento como diretriz, acolhemos o novo superior como aquele que faz as vezes de Cristo no mosteiro (cf. RB 2,2) e aquele que deve prestar conta de sua administração no dia de seu juízo particular (cf. RB 64,7).
Já desde quando foi escrita, em meados do século VI, a Santa Regra prevê uma certa obediência dialogada, sobretudo no capítulo 68, que hoje conhecemos sob o título “Se são ordenadas a um irmão coisas impossíveis”, que permite ao irmão apresentar ao Abade suas limitações frente a uma ordem que lhe parece fora de suas possibilidades, todavia, a conclusão do capítulo diz que “Se, depois de sua sugestão, a ordem do superior permanecer em sua determinação, saiba o súdito ser-lhe isso conveniente e, confiando pela caridade, no auxílio de Deus, obedeça” (RB 68, 4-5).
Ainda, no capítulo 71, a obediência conforme a Regra de São Bento, se estende a todos os irmãos – “Sejam obedientes uns aos outros” -, pois “por este caminho da obediência irão a Deus”, ou seja, o despojamento de nossa vida deve ser tal que a obediência deve ser a medida do nosso serviço, ou seja, do nosso amor.
Sobre este voto, creio ser o suficiente até o momento. Com a Graça de Deus, buscarei me aprofundar na próxima vez nas realidades do nosso voto de conversatio morum e em como ele se aproxima à vivência dos conselhos evangélicos da pobreza e castidade.
Irmão Vinícius O.Cist. (Vinicius Hernandes Barbosa) é formado como técnico em Administração de Empresas e graduado em Licenciatura em Matemática. É monge cisterciense da Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz em Itaporanga, SP.