Por Padre José Luiz Gonzaga do Prado
Os textos bíblicos deste domingo:
1a. Leitura (Jr 38,4-6.8-10) A leitura conta um episódio onde Jeremias é perseguido por dizer a verdade que os chefes, que enganavam o povo, não queriam ver.
Salmo (30 [29], 2-4.18) O Salmo é de um perseguido pelos poderosos, que escapou com a ajuda de Deus.
2a. Leitura (Hb 12,1-4) A tentação era a de desistir de ser cristão, abandonar tudo. Veja-mos como a leitura procura animar a permanecer firmes na luta.
3a. L. Evangelho (Lc 12,49-53) Pensamos certamente que o Evangelho nos manda buscar o acordo, a harmonia, a qualquer custo, que nunca se deve comprar a briga, discordar, ir à luta. Será?
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HOMILIA
A Realidade
É voz comum que o brasileiro é extremamente cordato, pacífico, concorda com tudo, acha que tudo e todos estão certos. Nossa formação católica contribuiu muito para isso. A Semana Santa teve no Brasil um desenvolvimento que não teve em muitos outros países. Aqui se celebram ao máximo os sofrimentos de Cristo e as dores de Maria.
As multidões que comparecem às procissões do Encontro e do Enterro mostram como isso calou na alma do povo. Daí o conformismo, a aceitação pacífica do sofrimento injusto, como o dos escravos sob o chicote dos senhores. “Jesus sofreu, a gente também tem de sofrer”.
“O pior acordo é melhor do que a melhor demanda”. Isso é válido, por todas as circunstâncias, na grande maioria dos casos, mas será que nunca é necessário “comprar a briga”, discordar, manter a própria opinião até prova em contrário?
A Palavra
Nas comunidades de onde veio o Evangelho segundo Lucas – nas de Corinto, por exemplo, – já começava a haver um cristianismo morno, nem quente nem frio, como o Apocalipse vai dizer da comunidade de Laodiceia. Em Corinto, ainda no tempo de Paulo, trinta anos, portanto, antes de Lucas escrever seu Evangelho, alguns que se consideravam os chefões das comunidades continuavam frequentando festinhas em honra das divinda-des pagãs.
Por isso, Lucas é o Evangelho do tudo ou nada, o Evangelho do Jesus exigente. Ele recolheu, então, e guardou para nós no seu Evangelho as palavras mais firmas de Jesus como as que lemos hoje.
Já nas histórias da infância Lucas apresenta o velho Simeão com o Menino Jesus nos braços e dizendo: “Este menino será um sinal de contradição!”, diante dele ninguém poderá ficar indiferente.
E, agora, a palavra dele: “É um fogo que eu vim trazer à terra”, não vim “jogar água benta”, “e como gostaria que esse fogo já estivesse bem aceso”, valendo para nós. Se, por causa dele, for preciso brigar com o pai, a mãe, a família inteira, que se brigue!
O Mistério
A Eucaristia celebra a grande decisão: recuar diante da ameaça de morte e da pior das mortes, ou ir em frente. E Jesus vai em frente. “Este pão partido e repartido sou eu que me parto e me reparto em favor de vocês; este vinho, do qual cada um de vocês vai beber um gole, é o meu sangue, a minha morte em favor dos pecadores”.