Pesquisar
Close this search box.

A CARIDADE E A SAÚDE MENTAL: UM REMÉDIO EM TEMPOS DE PANDEMIA

team-4529717_1920

Prof. Dr. Gerson Yoshinari

 

A Caridade é uma das três virtudes teologais, dentre as quais também temos a Fé e a Esperança, representando a Santíssima Trindade. Para São Paulo, dentre as três virtudes, a Caridade é a mais importante.

Em sua carta à Comunidade dos Coríntios, na Grécia, ele explica que “Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e a caridade. O maior deles, porém, é a caridade” (1Cor 13,13).

Interessante notar que há uma questão de tradução em muitas versões da Sagrada Escritura no qual a Caridade é traduzida como Amor. Ambas as interpretações estão adequadas, como confirmado pela Carta Encíclica “Deus Caritas Est”, do então Sumo Pontífice Bento XVI.

Nesta carta, Bento XVI explica: “é amor o serviço que a Igreja exerce para acorrer constantemente aos sofrimentos e às necessidades, mesmo materiais, dos homens” (p. 28, 2006), como um convite a amar “o próximo como a si mesmo” (cf. Mc 12, 31). Logo a caridade, ou “amor do próximo, é um amor radicado no amor de Deus” (BENTO XVI, p. 28, 2006).

Ora, e por que isso é relevante? O que isso tem a ver com a questão da pandemia pela COVID-19?

Neste cenário, uma equipe internacional de pesquisadores, da qual tive a honra de integrar, desenvolveu uma série de estudos sobre o impacto da pandemia na saúde mental da população brasileira, através da aplicação de um questionário eletrônico composto por diversos instrumentos de avaliação da saúde psíquica.

No Brasil, tivemos mais de mil e cem respondedores na primeira etapa e em um desses estudos, liderado por Alex França, da USP de São Carlos, realizamos uma análise comparativa entre a saúde mental de profissionais da saúde em relação à população geral, utilizando uma metodologia chamada “modelos gráficos gaussianos regularizados”.

Não se assuste com tal nome, isso pouco importa! Em estudos científicos sérios, para nós, o que importa é como podemos levá-los para nossa vida prática.

Quero destacar um dos resultados desse estudo relacionado ao nosso assunto em questão: a Caridade.

Observamos que os profissionais da saúde estavam mais protegidos em relação a nove sintomas depressivos (perda de interesse nas coisas, humor depressivo, alterações de sono, entre outros) quando comparado com a população geral. Esse resultado é surpreendente de uma certa forma, posto que seria de se imaginar que profissionais da saúde estavam (e continuam) sob maior risco de contaminação e morte devido a COVID, portanto, mais depressivos.

Na nossa análise, um dos principais fatores que levaram a essa “proteção” da saúde mental foi o sentimento de UTILIDADE, ou seja, os profissionais da saúde sentiam-se úteis, provavelmente por estarem prestando assistência à população, e isso os protegeu da depressão.

A caridade os salvou, de uma certa forma, pois colocavam-se a serviço do próximo, independentemente do cenário desfavorável, do medo da morte e do desconhecido que assombrava os primeiros meses da pandemia, no qual a pesquisa ocorreu.

Assim, reflito que não é apenas o próximo que se beneficia da caridade. Em verdade, talvez ele seja o que menos se beneficie. O maior benefício de sermos caridosos é mesmo nosso. Pratiquemos a caridade.

Ps. o artigo que publicamos sobre esse assunto foi selecionado para compor o repositório da Organização Mundial da Saúde sobre a COVID-19 e pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico: https://pesquisa.bvsalud.org/global-literature-on-novel-coronavirus-2019-ncov/resource/en/covidwho-1277838

 

Prof. Dr. Gerson Yoshinari é formado em Medicina e Doutor em Oncologia pela Universidade de São Paulo – USP. Especialista em Radioterapia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP- USP. Engenheiro de Controle e Automação e pós-doutorando pela Universidade Federal de Itajubá. Professor da Faculdade de Medicina de Itajubá – FMIT.