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IN-VERSOS: AS FORMAS DA VIDA

AS FORMAS DA VIDA

Por Gilvair Messias

A vida tem traços… Alguns longos demais. Outros curtos, carregados de saudades. A vida é o traço da duração que ela mesma é. Embora horizontal, finita. Embora intensa, efêmera. Embora curta por ser espaço, eterna. Traços sem definições. Traços apenas… A vida é traço que se gasta em cada espaço. É o tempo do vento. Quando voa, vai…   traços que gastam a força do braço. Fortes no começo. Fracos em alguns pedaços. Quase desaparecem, opacos, destraçados, destroços que a vida é em certas fases. O fim, sem ponto, o traço só para, não despede. O traço que termina é saudade…

A vida tem círculos… é traço que se curva e abraça a origem de si mesmo. A vida, quem sabe, é a busca sôfrega de seu começo, o encontro de seu passado no presente reconciliado com as curvas do tempo. A vida gira, roda, para chegar ao mesmo lugar e ainda perguntar: de onde vim, para onde vou? “O que sou” – a vida não responde, mas o círculo dos anos aprende. Aprender é ser circular. Viver é girar.

O círculo tem limites, superfícies, planícies, planaltos, pontos altos, pontos baixos… Quem gira, compartilha. Com dois círculos o corpo vê o mundo, a vida, os pontos, os horizontes. Com dois círculos, dia e noite. Sozinho, nada é, zero, acompanhado – infinito, multiplicado. O círculo é a humildade do traço que se curva e perdoa, pede perdão, inclina-se, une os pés à cabeça, o chão à razão. A vida é traço que aprendeu a ser círculo.

   Penso que as demais formas geométricas derivam de traços e círculos. Indicam, quem sabe, que o corpo aprendeu o que a alma é. Quando traço – a elevar-se para o infinito, a apontar o céu, os sonhos, o que há de vir, o que há de ser, o que há de chegar. Quando círculo – a inclinar-se, reconciliar, nivelar-se, engravidar, ser engravidado (enrolado, circulado), retornar à origem, descobrir-se, interiorizar… Estas duas formas de viver sintetizam todas as outras. Ora somos traços que apontam, ora círculos que voltam.

A vida é a arquitetura do espaço que ocupamos no mundo. Traços são braços, curvas que chegam a ser ombros. Na poesia de Drummond: “teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.” Em meu desconhecimento de arquitetura, porém com perspectiva de fé, posso dizer que os traços quando curvam sustentam a vida, encorajam os fracos, embelezam os abatidos! A vida é o círculo dos traços…

Gilvair Messias é professor graduado em Filosofia, História e Teologia. Mestre em Teologia. Especialista em Comunicação e Cultura e também em Psicanálise Clínica. Autor de livros e administrador do perfil @sentimentos_de_poeta_no_diva.