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É A NÓS CONFIADA, MAS A MISSÃO É DO SENHOR”:LUCIMARA TREVISAN E O SEU PROTAGONISMO LEIGO

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Lucimara Trevisan, natural de Poços de Caldas (MG), é formada em Pedagogia, Filosofia e Teologia. Desde muito cedo, interessou-se pela educação e pelo Ministério da Catequese e formação de Leigos.

Durante doze anos, de 1966 a 2008, esteve ligada diretamente a Assessoria de Pastoral da Diocese de Guaxupé, localizada no suldeste de Minas Gerais. Desde 2008, é Diretora Executiva do Centro Loyola de Formação e Espiritualidade de Belo Horizonte (MG).

O katholika conversou com Lucimara, conhecendo um pouco de sua formação, missão e trabalho dentro da Igreja Católica, sempre em cargos de liderança. Acompanhe a entrevista e conheça mais sobre sua vida e vocação cristã.

KATHOLIKA: Qual seu caminho de formação e como isso influenciou na sua vida? 

Eu fiz o antigo Magistério e depois Pedagogia. Em seguida fui fazer a Faculdade de Filosofia. Fiz Iniciação Teológica para leigos pela PUC-MG em BH. Naquela época era oferecido em módulos em janeiro. Isso despertou o desejo de fazer Teologia. Ao assumir a Diocese de Guaxupé-MG e sabendo que eu fazia Filosofia, Dom José Geraldo Oliveira do Valle me propôs fazer Teologia. Isso se concretizou e em 1992 iniciei a Teologia em Belo Horizonte. O Magistério e a Pedagogia me fizeram crescer muito, impactaram também meu jeito de ser Catequista. A Filosofia abriu meu olhar para a existência de uma maneira mais “aguda” e a Teologia me transformou. A Teologia modificou minha maneira de “ser humana”, de ser mulher, de ser cristã e sobretudo, minha relação com Deus.

KATHOLIKA: Uma mulher que esteve à frente da pastoral de uma diocese sul mineira e atualmente é diretora de um importante centro de formação e espiritualidade. Como você se sente, como mulher e leiga, nessa posição?

O Centro Loyola é um local de encontro e de formação, que tem a Espiritualidade Inaciana como fonte de sua missão. Eu amo o que faço. Minha vocação sempre foi zelar pelo acompanhamento dos cristãos leigos e leigas em formação, seja teológica, catequética ou na espiritualidade. Então me sinto em “casa” e respiro liberdade para experimentar novos itinerários e novas maneiras de realizar a missão. Como mulher na função de direção de uma obra apostólica sempre fui bem acolhida, respeitada e tratada com igualdade. A Companhia de Jesus me surpreendeu pela qualidade da missão que oferece no Centro Loyola e, também, pela maneira como trata as mulheres em cargos de lideranças em suas obras.

KATHOLIKA: São poucas as mulheres que se destacam no cenário eclesial. Como você vê o protagonismo feminino na Igreja do Brasil?

Cresceu o protagonismo feminino na Igreja em relação há décadas passadas. Mas, ainda somos poucas. Faltam mulheres no processo de formação do clero, o que julgo lamentável. Faltam mulheres na liderança de trabalhos pastorais, na assessoria de pastoral, na teologia… Falta investimento na formação dos leigos e leigas. O bispo que investiu na minha formação era um visionário. É preciso ver a formação dos leigos e leigas como investimento no futuro da Igreja.

Vejo mulheres (leigas e religiosas) em várias frentes da missão e fico orgulhosa do que vejo. Na Arquidiocese de Belo Horizonte, por exemplo, há mulheres que coordenam áreas importantes do Vicariato para a Ação Social, Política e Ambiental. Exercem um protagonismo que é fundamental para a Igreja hoje. Espero que mais mulheres assumam outras frentes da missão.

KATHOLIKA: Com a teologia e a renovação de Francisco na Igreja, como você avalia a possibilidade da função ministerial feminina dentro das comunidades, como Leitoras, Acólitas e Catequistas?

O Papa Francisco instituiu o Ministério do Catequista, abrindo possibilidade agora, não só para Leitoras e Acólitas, mas para uma imensa multidão de mulheres catequistas assumirem seu Ministério (agora instituído), ou seja, a missão de educadoras da fé, a serviço de uma catequese de Iniciação à vida Cristã. É um imenso avanço, mesmo que para muitos pareça pouco ainda. O ministério do Catequista vai possibilitar ter critérios mais claros e uma formação mais adequada. Minha esperança é a de que isto ajude a diminuir a imensa rotatividade dos catequistas. Mas, também que isto dê mais dignidade e reconhecimento ao enorme serviço que as mulheres exercem na comunidade cristã.

KATHOLIKA: O Centro Loyola é um dos maiores e mais reconhecidos centros de espiritualidade, fé e cultura. Qual a importância da formação cristã para o seguimento de Jesus Cristo?

A boa formação cristã aprofunda o relacionamento da pessoa com Jesus Cristo, aumenta a intimidade com Ele e o desejo de viver seguindo seus passos. A formação dá fundamento e alimenta a vida de fé. A formação é um direito de todo batizado. É preciso investimento em vários níveis de formação: a formação básica, a formação mais específica para algum trabalho pastoral (ou temática específica) e a formação teológica.

A formação cristã, quando feita com as características que a Igreja pede, transforma a vida da pessoa e a faz consciente do seu papel na comunidade cristã e na sociedade. Costumo dizer que sem a formação a vida de fé “balança”, vai ficando muito frágil. E a formação nos tira de uma fé ingênua e infantil e nos conduz a uma fé adulta, madura.

O Centro Loyola procura zelar pela formação na Espiritualidade e Mística cristã e oferece acompanhamento espiritual para os que estão num processo formativo. Achamos isso fundamental para que a formação não fique somente na teoria, mas que ajude a mais amar e servir.

KATHOLIKA: Diante da crise, como a polarização dos cristãos, falta de compromisso eclesial e comunitário, quais as perspectivas de transformação, na sua opinião?

Acredito que a saída já está sendo apontada pelo papa Francisco. A saída é focar no anúncio de Jesus Cristo, na alegria do seu Evangelho. Quanto mais longe de Jesus, mais infiéis somos, seja pessoal ou comunitariamente. Uma Igreja em saída é uma Igreja em permanente conversão, uma Igreja servidora do Evangelho.

O papa Francisco aponta outras perspectivas que decorrem dessa fidelidade ao Evangelho de Jesus hoje:

  1. O compromisso com a defesa da vida do planeta, com a defesa da Casa Comum. No nosso país isso implica também defesa da Amazônia.
  2. O cuidado com a família e as juventudes.
  3. O compromisso com a Fraternidade Universal.

As atuais Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) também apontam pilares importantes onde essas indicações do papa estão presentes. Aliás as DGAE atualizam, no Brasil, aquilo que o papa está indicando como saída para a Igreja hoje.

KATHOLIKA: Qual conselho/ mensagem você gostaria de deixar a todas as pessoas, principalmente as mulheres que assumem lideranças e responsabilidades dentro das comunidades?    

Vou falar a partir daquilo que experimento e acredito. Nós precisamos cuidar permanentemente da nossa Espiritualidade. Uma das maneiras de fazer isso é se deixar abraçar pela Palavra de Deus diariamente, ela vai nos “escavando”, nos ajudando a ser fiel a Jesus e a nós mesmos. Ela nos devolve a confiança na vida, na missão que o Senhor nos confiou. Outra sugestão é agendar, pelo menos uma vez por ano, um retiro espiritual. Acho isso hoje fundamental para que a gente tenha força, coragem, discernimento para viver e ser fiel a Jesus. Exercer alguma liderança exige da gente discernimento constante.

A boa liderança cuida das pessoas, cria relacionamento e para isso, precisamos cuidar da gente mesmo, da nossa formação. Nossa missão neste pós-pandemia é cuidar das pessoas, não podemos perder isto de vista.

Tento sempre não perder de vista que a Missão é do Senhor, a nós confiada, mas a Missão é Dele. Somos frágeis servidores do seu Amor. A missão é mais importante, não a minha pessoa, ou vaidades. Nos momentos de escuridão na missão que exercemos, não podemos esquecer que Ele “dorme no barco em meio a tempestade”. Ele está conosco. Ele é Deus conosco.