É preciso falar com o coração
Neste domingo em que a liturgia da Igreja comemora a Ascensão do Senhor comemora-se, também, o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais. O Papa Francisco, numa carta publicada em 24 de janeiro para motivar esse dia, faz apontamentos significativos que servem de incentivo para todos aqueles que assumem o trabalho com comunicação como missão de vida. Compartilhamos alguns trechos da carta, desejosos de que o Evangelho seja anunciado – como missão com a qual se identifica o Katholika – nos espaços contemporâneos com beleza e profetismo.
“Foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora. Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente.
E, se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor (cf. Ef 4, 15). Não devemos ter medo de proclamar a verdade, por vezes incômoda, mas de o fazer sem amor, sem coração. (…).
Jesus chama-nos a atenção de que cada árvore se conhece pelo seu fruto (cf. Lc 6, 44). De igual modo “o homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro, tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração” (6, 45).
Consequentemente, para se poder comunicar testemunhando a verdade no amor, é preciso purificar o próprio coração. Só ouvindo e falando com o coração puro é que podemos ver para além das aparências, superando o rumor confuso que, mesmo no campo da informação, não nos ajuda a fazer o discernimento na complexidade do mundo em que vivemos. O apelo para se falar com o coração interpela radicalmente este nosso tempo, tão propenso à indiferença e à indignação, baseada por vezes até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade.
Comunicar cordialmente quer dizer que a pessoa que nos lê ou escuta é levada a deduzir a nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens do nosso tempo. Quem assim fala, ama o outro, pois preocupa-se com ele e salvaguarda a sua liberdade, sem a violar.
Num período da história marcado por polarizações e oposições – de que, infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune – o empenho em prol duma comunicação “de coração e braços abertos” não diz respeito exclusivamente aos agentes da informação, mas é responsabilidade de cada um.
Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor. (…) Da nossa boca, não deveriam sair palavras más, “mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam” (Ef 4, 29).
Que o Senhor Jesus, Palavra pura que brota do coração do Pai, nos ajude a tornar a nossa comunicação livre, limpa e cordial”.
Leia a carta do Papa Francisco aqui.