O sofrimento é um dos mistérios que mais incomodam a humanidade. Por que morre uma criança de oito anos com câncer? Por que um país é tomado por radicais que são incapazes de dar dignidade e igualdade às pessoas? Por que há, no bairro vizinho ao meu, alguém que faz apenas uma refeição incompleta ao dia, que vive em um barraco e com menos de um salário por mês?
Essas são perguntas que incomodam qualquer pessoa que tenha o mínimo de senso de compaixão e empatia. E a pergunta pode se virar para Deus: como Ele pode permitir tais sofrimentos?
Em um documento chamado O Sentido Cristão do Sofrimento Humano, o então papa João Paulo II dizia que a Bíblia é o livro sobre a história do sofrimento humano. Deus não é indiferente ao sofrimento, ao mal. Mas, Deus é impotente diante da liberdade humana. Parece um paradoxo: como alguém que pode tudo, não pode nada diante da livre decisão dos homens?
O sofrimento, assim, deve ser analisado a partir da liberdade da criação, da liberdade do homem. E as perguntas iniciais mudam de tom: por que alguns são tão egoístas e não são capazes de ser solidários? Por que há má distribuição de renda? Por que comemos o que nos mata, e consideramos coisas tóxicas como alimento? Por que o dinheiro para alguns é mais importante do que a vida?
Não há respostas objetivas para essas perguntas. Mas, há a possibilidade de uma resposta pessoal e decisiva, que pode mudar a realidade do mundo que o cerca. Se você e eu formos mais empáticos e cristãos autênticos, certamente não faltará o pão para quem vive ao nosso lado, seja o pão físico ou o pão de dignidade.
Recordo de uma fala do Papa Francisco em sua carta/ exortação aos jovens, chamada Christus Vivit, que aqui faço de prece e oração:
Certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas. Convido cada um de vocês a perguntar-se: Aprendi eu a chorar, quando vejo uma criança faminta, uma criança drogada pela estrada, uma criança sem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escrava pela sociedade? Ou o meu choro não passa do pranto caprichoso de quem chora porque quereria ter mais alguma coisa?
Procure aprender a chorar pelos jovens que estão piores do que você. A misericórdia e a compaixão também se manifestam chorando. Se o pranto não te vem, pede ao Senhor que te conceda derramar lágrimas pelo sofrimento dos outros. Quando souberes chorar, então serás capaz de fazer algo, do fundo do coração, pelos outros.
Padre Luiz Fernando Gomes
Padre Luiz Fernando Gomes é padre da Diocese de Guaxupé, MG.