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EZEQUIEL: MÁRTIR DA OPÇÃO PELOS POBRES

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“Sonhem em fazer felizes todas as pessoas”. Era assim que Ezequiel falava aos jovens. Jovem, aliás, também era o padre italiano que deixou Pádua, no norte da Itália, para dedicar seu sacerdócio à Igreja no meio da floresta amazônica.

O juvenil padre missionário, de 32 anos de idade, foi morto por pistoleiros de tocaia a mando de fazendeiros no dia 24 de julho de 1985.  Foi assassinado em Cacoal – Rondônia, na Amazônia brasileira. Ele voltava de uma missão de paz, tentando negociar um acordo entre fazendeiros, índios e pobres na luta por terra.  

O Padre Ezequiel Ramin é servo de Deus. Tendo sido concluída a caminhada no processo de beatificação, toda a documentação já foi entregue à Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano.

Passados 36 anos de sua morte, podemos perguntar: por que o testemunho radical do Padre Ezequiel Ramin na dedicação missionária, no cuidado dos índios e dos pobres sem-terra e na configuração à Cristo pela doação da vida derramando seu próprio sangue pelo evangelho ainda é tão desconhecido pela Igreja do Brasil?

Sem pretender qualquer resposta generalista, pode-se dizer que, talvez seja muito difícil parar diante do jovem padre e não ser incomodado pelo seu exemplo. Não é fácil pedir-lhe alguma coisa, pois, diante do seu grito profético, sentimos vergonha de ostentar uma religiosidade rasa, e nosso pedido não é outro que não: “sejamos imitadores de Cristo como também você foi”.

Compartilhamos um trecho de uma de suas cartas, para que, por suas próprias palavras, sejamos inquietados:

“Os espinhos acabarão por tecer uma coroa ao Senhor. Tanta deve ser a força da Palavra de Deus que, sem cortar os espinhos nasce entre eles. A semente nasce entre as pedras que reconhecerão o Senhor no seu poder. Nada impedirá a Palavra de nascer. No entanto, parece que aumentam as dificuldades para quem a anuncia. O que sofre a semente sofre-o também o semeador. Há um ano, um advogado, a 30 quilômetros daqui, foi morto. Não se pode defender os pobres e salvar-se. Tinha sido contatado pela igreja local poucos meses antes para defender seis agricultores: ecce homo. “Aliud cecidit in terram bonam et natum …”  É a esperança. Aqui se respira um ambiente muito tenso em relação à polícia militar por causa das denúncias que fazemos na igreja. Há muita raiva para engolir. Mas o que é que nós podemos fazer? Dói-me profundamente o que esta gente tem que padecer”.  (Carta à Irmã Joana Dugo. Cacoal, 5 de agosto de 1984).

Que o testemunho do jovem padre Ezequiel Ramin nos inspire a vivência do evangelho. Numa de suas últimas cartas assim concluiu: “A vida é bela e estou contente de dá-la. Quero que saibais isto” (Léle, 25 de abril de 1985).

Richard Oliveira é formado em Filosofia pela Faculdade Católica de Pouso Alegre e cursando teologia na mesma Faculdade. É seminarista na Diocese de Guaxupé, MG. No Katholika é redator no portal, roteirista e diretor nas produções audiovisuais.