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IN-VERSOS: POR QUE NÃO MUDAMOS?

In-versos

Por Gilvair Messias

Será mesmo que não mudamos ou temos a ilusão de permanência? Eu diria que o que não muda é o fato de que mudamos sempre. A mudança é uma lei do Universo.

Já aprendemos que o tempo corresponde ao movimento do planeta em torno do Sol. Se tudo fosse estagnado, só haveria presente. Quem consegue imaginar uma vida sem passado? Nosso pensamento não consegue este raciocínio, porque só nos entendemos dentro do movimento da mudança. Isto significa que não conseguimos pensar fora do que denominamos tempo. Portanto, a mudança não é uma escolha, mas condição para viver. Só os mortos não mudam. Com a morte, a vida não muda mais.

Você consegue se lembrar do que fazia neste exato dia quando tinha 05 anos ou 18? Provavelmente, não. É porque muitos eventos ocorreram. E consegue pensar como estará daqui a 05 anos? Também não. Se continuasse tal e qual, saberia. Mas é pelo fato inegável que tudo muda que não é possível saber de si mesmo no futuro.

Heráclito, filósofo antigo, dizia que “ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras”. Ele chamou de “devir” a constante mudança do mundo, a alternância dos opostos. Há mudança porque tudo tem sua oposição. Só há frio porque também existe o calor e vice-versa. Só há o que chamamos de alegria porque há tristeza. Se não houvesse tristeza não saberíamos, em sua ausência, porque nos alegramos. Somente a ausência de algo pode, em seu oposto, revelar seu significado. Eu posso dizer que não tenho dor porque, em sua ausência, entendo o que é sentir bem-estar.

O famoso químico francês, Lavoisier, disse que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

Tudo bem! Mas por que então algumas pessoas permanecem no mesmo comportamento? Justamente por resistência. Elas temem muito perder uma condição de conforto. Toda mudança tem perdas. Isso significa que estamos constantemente perdendo. Quem se nega a uma mudança talvez precise muito do que o reafirma em algum lugar, onde sente-se amparado, por pior que seja este lugar ou condição de ser.

As pessoas não mudam quando determinados comportamentos lhes proporcionam ganhos. Para que alguém mude é necessário um grande impulso, que o faça ter motivos para perder ou deixar uma outra estrutura a qual se apega. Por isto, geralmente afirmamos que o amor é o grande impulso capaz de mover a existência para um outro lugar de sentido e significado. Pode parecer muito estranho, mas quem resiste a mudar é porque se mantém numa antiga espécie de amor. Somente uma outra força para deslocá-lo. Infelizmente, para alguns é a morte.

Gosto desta frase atribuída a Carl Rogers: “O curioso paradoxo é que quando me aceito como sou, posso então mudar“. A mudança tem a ver com a aceitação de si. Somente quando nos reconhecemos podemos ir adiante; deixar para trás a casca velha e morta, desabrochar para novas possibilidades de vida.

Gilvair Messias é professor graduado em Filosofia, História e Teologia. Mestre em Teologia. Especialista em Comunicação e Cultura e também em Psicanálise Clínica. Autor de livros e administrador do perfil @sentimentos_de_poeta_no_diva.