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IN-VERSOS: QUAIS SEGREDOS SEU CELULAR ESCONDE?

SEGREDOS NO CELULAR

Por Gilvair Messias

Assisti recentemente ao filme árabe, em exibição no streaming Netflix, “Perfeitos desconhecidos”. Vale a pena assisti-lo!

A história se passa em uma noite de eclipse, com o encontro de um grupo de amigos para um jantar. À mesa decidem dispor de seus celulares para o conhecimento de todos. Qualquer mensagem ou telefonema deveria ser escutado em público.

A grande polêmica levantada pelo filme está no poder do aparelho celular sobre nossas vidas, guardando toda nossa intimidade. Se pensarmos bem, não precisamos de um chip em nosso corpo, como se fosse um segundo cérebro. Fixamos em nossas vidas um aparelho que se tornou nosso HD externo. Nele colocamos toda nossa informação. Nossas preferências são arquivadas nas pesquisas que fazemos, nossa economia nos aplicativos bancários, nossas lembranças nas fotos, nossos prazeres nos jogos e aplicativos diversos e nossas intimidades nas conversas, fotos, vídeos etc.

De algum modo o celular substitui o amigo mais próximo. Ele nos é mais cúmplice do que qualquer pessoa, nele colocamos tudo: com ele dormimos, acordamos, trabalhamos, viajamos. Quem tem tanto espaço assim em nossa Vida? Parece ser um “outro eu”, parece que temos, um “eu-postiço”.

Hoje se conhece bastante de um indivíduo a partir de seu aparelho celular. Ele tornou-se, por vezes, um traidor ao revelar nossos segredos. Relacionamentos são desfeitos, perde-se o emprego e a reputação.

É inegável a importância do celular em nossas vidas. Ele tornou mais práticas muitas de nossas atividades. Facilitou nossa comunicação e a interatividade. Aproximou-nos de pessoas distantes, deu-nos oportunidades de aprendizado. Mais do que a TV e o Rádio, o celular, tão recente em nosso cotidiano, revolucionou nossa cultura. Talvez, saberemos, daqui a alguns anos, o grande significado de seu surgimento na civilização humana. De todo modo, há quem diga que o celular será na história tão importante quanto a descoberta da escrita e da imprensa.

Porém, já é uma preocupação o conjunto de efeitos de seu uso ilimitado. Já está confirmado que as novas gerações estão perdendo a capacidade de concentração e raciocínio, têm dormido menos e perdido níveis de aprendizagem. Pesquisas já revelam que o celular produz no cérebro o mesmo dano causado pelo vício do cigarro, da droga e do álcool; e que também afeta a ansiedade e a depressão. Várias Redes Sociais aceleram a competição, a sensação de vazio, de solidão, de aniquilamento diante do sucesso do outro e consequentemente a baixa autoestima. Também tem espaços que promovem violência, agressividade e falsas notícias.

Reconhecemos obviamente sua eficiência. Já não nos vemos sem ele. Tanto é que, do começo ao fim da produção e divulgação deste texto, tudo fiz através dele. Provavelmente, você agora lê este artigo através de um aparelho celular. Mas, urge perguntar qual o seu espaço em nossas vidas e os riscos que corremos com o seu uso desmedido. O celular tem nos perguntado com sarcasmo, talvez mais do que nunca, o que significa ser humano. Por vezes, temos mostrado nosso lado mais sombrio. Mas podemos responder-lhe à altura, aprendendo a limitar na máquina os nossos pontos fracos. Sabemos que, muitas vezes procuramos neste aparelho, de forma muito fantasiosa, por horas e mais horas, o que não encontramos em nós mesmos e na vida. Talvez hoje podemos dizer: diga-me o que fazes com teu celular e eu direi quem tu és.

Gilvair Messias é professor graduado em Filosofia, História e Teologia. Mestre em Teologia. Especialista em Comunicação e Cultura e também em Psicanálise Clínica. Autor de livros e administrador do perfil @sentimentos_de_poeta_no_diva.