Por Gilvair Messias
A gente pergunta tanto…
Talvez não ter um exato sentido de ser
É sentir… apesar de
E deixar-se ser sentido
Pelas abelhas que fazem o mel
E nem sabem que ele é doce ao paladar
Pelas cigarras que se põem a cantar antes de morrer
Pelo dia que não termina sem ver muita dor e, apesar do que sabe do que cada um fez, amanhece outra vez
Pelo caminho que não tem nenhuma intenção de chegar, seu prazer é só ver caminhar
Pela terra que não pede a chuva, nem reclama do sol. Mas se chove, floresce. E se aquece, espera. Para cada demora, cria uma estação.
Pelas árvores, que não desistem, se cortadas são, brotam no lugar da dor e nunca tiveram um grande motivo, um sonho ou um amor que as fizessem resistir a morrer
Queremos tanto um sentido
Que criamos deuses
E se neles não cremos, sofremos
Culpamo-nos porque não cumprimos a sina. Que sina? De produzir sentido pra vida
Porque faltou-nos a fé
E ainda não sabemos o que a vida é, para o que ela serve
Trabalhamos para ter um sentido
Mas nos cansamos e queremos mudar de trabalho, queremos um atalho para todo esforço
Se aposentamos, reclamamos que a vida ficou vazia
Que queremos companhia,
porque sozinho ninguém aguenta ficar
Também criamos amores, namoramos, nos casamos ou temos filhos para que a vida tenha um sentido…
E ainda nos separamos quando juntos sofremos, procuramos novas pessoas, novas possibilidades, novas formas de viver e de ser
Esperamos, esperamos… decepcionamos, decepados e retomamos a viver
Talvez o sentido não exista ou se existe, talvez possa também ser o sofrer e o perder, a infelicidade, o retalho perdido e sem nexo com o tecido da vida. O fragmento, a surpresa, o espanto e o trabalho que dá amar, amar… E procurar, contra toda adversidade, sentir profundamente cada realidade, porque sabemos, mais do que tudo, que não somos para sempre, que estamos apenas suspensos no tempo, como um fruto em maturação, dependurado na árvore. Se depende de nós, sabemos que não.
A vida da gente se mistura à vida do outro. Neste sufoco, o sentido é viver como uma abelha ao fazer seu mel, como uma cigarra a cantar antes de morrer, como um entardecer que se encerra feliz ou um caminho que tem como prazer o fato de somente levar alguém a algum lugar, como a terra que cria estações cheias de belezas para alternar sua instabilidade e aprender a lidar com a (in)felicidade de cada época, como as árvores que, mesmo cortadas, florescem. Talvez hoje meu sentido seja ouvir uma flauta doce ou um pássaro que canta longe, um abraço esperado. Talvez seja um almoço bem-feito, uma caminhada com um amigo querido, um cuidado. Cortar o cabelo ou deixá-lo crescer, sonhar, realizar ou apenas ver que se estava errado.
O sentido? É a vida. Como ela é, como ela quer ser… o sentido é viver!
Gilvair Messias é professor graduado em Filosofia, História e Teologia. Mestre em Teologia. Especialista em Comunicação e Cultura e também em Psicanálise Clínica. Autor de livros e administrador do perfil @sentimentos_de_poeta_no_diva.