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O NATAL TEM ORIGEM EM UMA FESTA PAGÃ?

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Maria e José moravam em Nazaré e o próprio Jesus era chamado de Nazareno. Mateus, muito brevemente, afirma que Jesus nasceu em Belém no tempo de Herodes que reinou até o ano 4 antes da era cristã (Mt 2,1).

Lucas dedica um capítulo inteiro para a infância de Jesus e relata seu nascimento em vinte versículos (2, 1-20). Não há nos outros escritos do Novo Testamento maiores informações sobre a infância de Jesus.

Lucas, ao situar o nascimento de Jesus em Belém, apresenta o motivo histórico que sustenta a teologia da universalidade do cristianismo. Na verdade, os relatos da infância de Jesus em São Lucas são um aperitivo do significado completo do desenrolar posterior da mensagem do terceiro evangelho. Todos os temas que lhe são caros já se fazem presentes nos “relatos da infância”.

O nascimento de Jesus na cidade de Davi situa-se no contexto da história universal. A universalidade de domínio do império romano que, providencialmente, no tempo do imperador Augusto vivia em paz, com uma língua única, permitiu que a consciência humana entendesse a mensagem universal de salvação.

De fato, realizava-se “a plenitude dos tempos”! O poeta Virgílio, desta época, cantou este período luminoso do império na sua quarta écloga com a famosa expressão: “Agora tudo deve mudar”. (Joseph Ratzinger, A Infância de Jesus, Planeta, 2012, SP).

Sim, houve a grande mudança, mas não por causa do imperador César Augusto, mas por causa de outro futuro Rei Universal, Jesus de Nazaré, filho de Maria e José, que, de alguma forma, uniu toda a humanidade como uma só e única família.

Augusto decretou o recenseamento de todo império o que conduziu Maria e José, descendentes de Davi, para sua cidade de origem, Belém, onde, com bastante probabilidade, Jesus nasceu. A hipótese de que Jesus tenha nascido em Nazaré, levantada no começo do século XX, já não tem mais consenso entre os especialistas.

O calendário gregoriano criado em Roma pelo monge Dionísio no século VI, – 1582 quando o Papa era Gregório XIII, – errou por seis a quatro anos a data do nascimento de Jesus, ao tomarmos, como referência, as indicações de Mateus e Lucas. Jesus nasceu uns anos antes do tempo estimado no nosso calendário.

O dia exato do nascimento de Jesus permanece obscuro. Uma primeira hipótese, chamada de “apologético-histórico-religiosa”, afirma que a data fixada para o Natal do Senhor no dia 25 de dezembro, solstício do inverno, veio para combater a festa pagã do “Deus Sol invicto”. Esta festa tinha sido decretada pelo imperador Aureliano no ano 274.

O registro mais antigo da comemoração do Natal, dia 25 de dezembro, data do ano 336. Ainda que esta hipótese de inculturação esteja recheada de motivações bíblicas, tais como a afirmação de Zacarias no cântico do Benedictus: “o sol nascente que nos veio visitar” (Lc 1, 78) em referência ao nascimento de Jesus, ela não parece ser a hipótese mais plausível. A propagação já registrada da data pode ter sido motivada pelo Concílio de Éfeso no ano 326 como forma de combate à heresia ariana e não em substituição à data decretada pelo imperador para celebração do interstício do inverno.

Por isto, a segunda hipótese tem mais fundamento. Chama-se a “hipótese do cômputo”. Desde o século II teólogos cristãos dedicavam-se a calcular o dia do nascimento de Jesus, cuja data, os evangelhos não registraram com precisão. Para isto estes teólogos chegaram através de cálculos que João Batista teria sido concebido no equinócio do outono e nascido no solstício do verão. Jesus foi concebido seis meses após o nascimento de João, portanto no equinócio da primavera, dia 25 de março. Noves meses depois, no solstício do inverno, ele teria nascido: dia 25 de dezembro.

“Não podemos deixar de reconhecer que foi este cálculo do cômputo, e esta convicção que deram o impulso para a celebração da festa do nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro, e não a consideração pela festa pagã do Sol-invictus” (Adolf Adam, O Ano Litúrgico, 2ª edição, Ed. Paulinas, 1983, pag. 123).

Concluindo: não sabemos a data precisa do nascimento de Jesus, porém, com bastante segurança, podemos afirmar que a motivação para a origem da data do Natal não foi uma festa pagã. E o que mais importa, o Natal é a comemoração de um evento histórico em que nosso Deus intervém, ele próprio, na história da humanidade para ser um Deus próximo, um de nós: Deus conosco, Emanuel!

Pe. José Cândido

Pe. José Cândido da Silva é Pároco em São Sebastião, Região Centro-Sul de Belo Horizonte e Editor Chefe do Katholika.