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OS PADRES DE KIEV: NO CAMINHO DAS BOMBAS

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Richard Oliveira

Quando as cenas da guerra no leste europeu invadiram as telas dos celulares mostrando a marcha do exército russo em território ucraniano, uma imagem chamou a atenção: num abrigo subterrâneo de Vyšhorod, pequena cidade a 20Km de Kiev, um padre celebrava a missa de domingo com uma pequena comunidade, iluminados apenas por uma lâmpada, ao som do bombardeio que já cercava a capital ucraniana. Poderíamos parar aqui. Só essa descrição já seria o suficiente para justificar a intenção do texto.

O que leva um homem “correr para as bombas” no ímpeto de realizar pela sua vida a missão de Cristo?

Num outro abrigo de Kiev, o padre brasileiro Lucas Perozzi Jorge, natural de Álvares Machado, cidade de quase 25 mil habitantes na região de Presidente Prudente, SP, cuidava de 28 pessoas, entre elas algumas crianças, no período mais crítico da invasão.

O Padre Lucas, como também o jovem padre greco-católico de Vyšhorod, compreenderam na prática o que o Bispo norte americano Fulton Sheen (1895 – 1979) chamava de “segunda ordenação”. Sheen dizia que depois da ordenação sacramental, unção que consagra um homem para ser sacerdote de Cristo para o serviço do Povo de Deus, o padre precisa experimentar uma segunda ordenação. Tocado pelo Espírito Santo e permitindo que a ação da graça se realize profundamente na sua vida, o padre inicia um caminho de configuração profunda com o Cristo Bom Pastor, abandona-se à Providência Divina, e encontra na doação total da própria vida, o que Fulton Sheen chama de “autocrucifixão”, o sentido mais profundo de sua existência e vocação.

Na maioria dos contextos, não há missas em abrigos antibomba ou situações de limite da vida, que de certo modo desinstalam “quase que na marra” as pessoas consagradas do comodismo e da estagnação. Mas, há necessidade de que os padres se abram a essa “segunda ordenação” em qualquer contexto em que estejam inseridos. E não se leia isso naquela já marcada perspectiva da necessidade de testemunho. É uma necessidade vital para que o homem chamado, realize e se realize na vocação que abraçou. Se o padre não for conduzido pelo Espírito Santo, se não fizer o caminho de Cristo, por quais caminhos andará?

Os padres de Kiev têm muito a nos ensinar. Somente um homem que deseja realizar na sua vida a vida de Cristo, é capaz de ir na direção das bombas.