O cuidado com a vida é uma exigência, um mandamento de amor deixado por Deus à humanidade. Por muito tempo, o discurso religioso falou de uma espiritualidade desencarnada, num contexto em que o autocuidado era visto como egoísmo, como um pecado. Graças as reflexões da filosofia e o avanço da psicologia, hoje entende-se como é importante para a espiritualidade o cuidado com o corpo e a mente. Na verdade, em todas as relações vividas por um indivíduo a sua saúde psíquica, corporal e espiritual deve estar em dia.
Vale a pena recordar um importante filósofo e teólogo, padre jesuíta falecido em 2002, Henrique Cláudio de Lima Vaz. De acordo com seus estudos, que levantam os dados de toda a história ocidental, a pessoa humana é formada por este tripé: corpo, psíquico e espírito. Com sua estrutura fundamental, ela se relaciona com o mundo, o outro e o transcendente, que chamamos de Deus.
O cuidado pessoal deve levar em conta todas estas dimensões que formam a pessoa humana. Um sujeito que se preocupa demais com sua saúde mental, mas acaba se esquecendo de exercitar e trabalhar sua espiritualidade, negligencia o seu bem-estar. Do mesmo jeito, alguém que possua um corpo trabalhado, visualmente bonito e forte, mas não pensa em sua situação mental e espiritual, comete um equívoco, pois trabalha apenas o exterior, ignorando o seu interior, que é a fonte de todo o seu sentido existencial.
Estes são os elementos que a espiritualidade deve levar em conta atualmente: na mesma proporção em que se cuida do corpo, a mente e o espírito precisam ser trabalhados. Os psiquiatras, médicos e psicólogos são unânimes em afirmar a extrema importância da atividade física para a superação de doenças como a ansiedade e a depressão, tão comuns neste tempo. Também não faltam pesquisas desenvolvidas por agentes de saúde que relatam como a espiritualidade colabora com a cura e o bem-estar de uma pessoa.
Não é possível ignorar esses fatos. A realização plena dos homens e mulheres depende da sua relação integral consigo mesmos. Só assim todos podem se relacionar com as demais pessoas com respeito e empatia, com disposição para cuidar do mundo como uma casa comum, percebendo a delicadeza da vida que não se esgota no aqui e agora.
Um estilo de vida, lifestyle, precisa, mais do que nunca, envolver o todo do humano. Não é pecado cuidar de si mesmo, primar pela própria saúde mental e a situação física do seu corpo. Mas ninguém deve se esquecer de que a base de todas essas realidades está apontada para um sentido muito maior, que só é possível encontrar na espiritualidade. Pela espiritualidade, o “eu” é colocado diante de si mesmo e, ao mesmo tempo, levado para além de si. Em um modo mais simples de dizer, é quando alguém olha para si, vai até o mais profundo do seu interior e percebe que ali está alguém que é bem maior do que ele: Deus. Uma vez encontrado esse sentido, mente e corpo são vistos como joias a serem cuidadas, afinal, são a casa de um hóspede especial.
Luiz Fernando Gomes
Luiz Fernando Gomes é seminarista da Diocese de Guaxupé-MG. É bacharel em Filosofia pela Faculdade Católica de Pouso Alegre e está cursando o último período de bacharel em Teologia pela mesma instituição.