Por Gilvair Messias
Quem é Maria? Para o Brasil, Aparecida!
Em qualquer época, Maria é ícone do Olhar de Deus. Nela, Deus pousa o olhar sobre os que o temem (Sl 32). O olhar de Maria está a serviço da misericórdia de Deus.
Desde Nazaré, em todas as terras onde um santuário é elevado sob o título de Maria, na cultura do povo, em seu jeito de ler a vida, Deus pousa o olhar sobre os que o temem.
A encarnação de Jesus escapa a qualquer espaço de privilégio político ou religioso. O cristianismo entende que Deus quis apresentar-se na periferia – Nazaré (periferia da periferia do Império Romano) e aos excluídos – Maria (mulher, pobre, distante do poder político e religioso). Toda manifestação religiosa mariana ocorre em espaços de exclusão, sofrimento e pobreza. Basta ver o contexto de Aparecida, de pescadores e escravos negros, de Guadalupe, da exploração indígena. Maria, conforme o magnificat do evangelho de Lucas, é símbolo da predileção de Deus pelos pequenos e fracos.
Deus e Maria tem um caso de amor! De um lado, Ele a olha para olhar o Povo. De outro lado, Ela O olha para olhar o Povo. Então, Deus serve-se do olhar de Maria para ver seu Povo. Deus serve-se da fé de Maria para gerar Jesus.
O corpo de Maria esteve a serviço de Deus para gerar o homem Jesus. Mas foi sua fé no Deus Vivo que deu ao mundo a possibilidade de Deus encarnar-se. Deus seria muito rude se precisasse apenas do corpo de Maria para salvar a humanidade de seus pecados; Deus quis servir-se da fé de uma mulher (Lc 1, 30). A fé de Maria, luz de seus olhos, foi o maior serviço que ofertou a Deus e a seu povo. Somente pela fé é possível servir (Lc 1,38). A fé só é válida se for casada com o amor.
Se olhar apenas o Novo Testamento, Maria é a mulher mãe de Jesus. Mas, ao ler a história do Povo de Deus do Antigo Testamento, Maria é aquela que Deus esperava para o novo Israel (Os 2, 16-25). Portanto, Maria não é apenas personagem histórica. Ela é símbolo da nova aliança, realizada em seu Filho. Ela, em Jesus, une Deus e o Povo. Ela renova a fé em “Deus conosco” (Ex 3, 11-15; Lc 1,28).
Maria é toda especial para Deus, sempre apaixonado pela humanidade. É a nova Judá que dá à luz o Messias para o mundo. Por isso, é a mulher da solidariedade universal, naturalmente missionária. É aquela que, antes da virgindade física, é a mulher mais virginal na fé que Deus encontrou, sem as manchas da corrupção templária, pura na aliança com o Altíssimo, não aprendeu a prostituir seu crer em Deus. É o novo templo daqueles que esperam a salvação (Lc 1, 43-45).
Deus, em Maria, recria a humanidade! Ela é a nova terra, grávida do novo homem “imagem e semelhança de Deus”.
Quem é Maria? É gente aparecida ao olhar de Deus. No Brasil, o negro, o pobre ribeirinho – pescador de esperança, a mulher descalça e sem manto. É essa gente, desaparecida ao olhar dos grandes, que apareceu na imagem da mulher negra mãe de Jesus. E é essa gente que a vestiu com o manto da justiça e a coroou rainha dos pobres. Pois o poder mais autêntico é o que dá expressão e vida aos que não as têm.