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Reino de Deus, reino do homem: “Fé e Política”

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Por Padre José Cândido da Silva

Os grupos de fé e política que tiveram seu apogeu em anos passados hoje encontram-se em crise. A crise é muito simples. Os fiéis foram descobrindo que os objetivos propostos não guardavam o sadio equilíbrio entre fé e política. A fé foi ficando cada vez mais marginalizada e a política dividia os participantes porque pareciam mais células partidárias do que Política no sentido do serviço ao bem comum.

Jesus propõe o ensinamento aos seus discípulos e a nós sobre a correta relação entre a fé e a política. Há um tributo que é direito de Deus e um tributo que é direito de César. Articular estes dois direitos com seus respectivos deveres é por vezes difícil. Jesus começa a nos dizer que a esfera do Reino de Deus e a esfera do Reino de César não se excluem por princípio, mas também não se misturam ou se subordinam.

Estado e Igreja são separados, mas não em conflito, porque ambos, cada qual a seu modo, tendem para a salvação do homem em toda sua integralidade: corpo, alma e espírito – dimensões inseparáveis. Para isto Deus se serve de duas soberanias: a de Deus inaugurada na história por Jesus, o Messias e Salvador, e a do Estado que visa a organização e ordenação do mundo a serviço dos seus cidadãos.

Se, durante sua vida terrena ao anunciar o Reino de Deus, Jesus julga e inquieta o poder temporal, concretamente ele nunca pregou nenhuma revolução terrena e nada realizou de concreto, além de sua palavra admoestadora aos poderes iníquos. Apesar de pedidos, não iniciou uma revolta contra Roma, mas foi considerado o mais perigoso de todos os agitadores messiânicos do seu tempo.

Jesus não prega nem uma sublevação dos pobres, nem a emancipação raivosa da mulher, mas manifesta amor incondicional a ambos. Ao exigir o pagamento do tributo a César, e dizer a Pilatos que o poder dele vinha do alto, Jesus reconhece o dever do Estado como instrumento de promoção da dignidade humana e oferece sua contribuição na manutenção e na melhoria da ordem do mundo e das condições dos cidadãos

Jesus não olha as pessoas, em especial os pobres e marginalizados, como grupos de pressão ou como coletivos a serem usados para fins políticos, ele olha cada um na sua história de vida com suas lutas, seus problemas, suas alegrias e, acima de tudo, suas esperanças. Ele ama as pessoas, sem usá-las.

Por isto, Jesus anuncia o Reino de Deus e o acesso a ele pela conversão pessoal. Ele coloca o machado na raiz, buscando eliminar a causa do mal que assola a humanidade: o pecado, a egolatria e o culto do ter. Pecados presentes em ricos e pobres, governantes e governados, nos funcionários do Estado e nos ministros da Igreja. 

Como os discípulos de Jesus devem se comportar diante das autoridades públicas? Mesmo reconhecendo e obedecendo a autoridade devidamente e democraticamente constituída, o cristão guarda uma liberdade que lhe permite trabalhar na sua função e criticar construtivamente visando a preservar o direito de Deus acima dos interesses que possam ferir a dignidade humana e a vida desde sua origem até seu ocaso. 

Há um caso em que a Igreja e os discípulos de Jesus se opõem radicalmente contra o Estado ou um partido que visa o poder: a absolutização do poder.

Estar conivente com esta proposta é idolatria porque substitui o real e verdadeiro absoluto pelo relativo que está em toda e qualquer estrutura ou instituição humana. Os testemunhos na história da Igreja são incontáveis pois percorrem todos os mártires de ontem até os de hoje.