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SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA

19-02-domingo-quaresma

Por Padre José Luiz Gonzaga do Prado

Os textos bíblicos deste domingo:

1a. Leitura (Gn 15,5-12.17-18) Abrão está velho e sem filho. Deus dá a ele a esperança de tornar-se pai de uma enorme multidão. O fogo que passa entre as metades de animais sacrificados simboliza que Deus está firmando um compromisso com Abrão.

Salmo (27 [26],1.7-9.13-14) Cantamos um salmo de confiança em Deus, amigo dos fracos.

2a. Leitura (Fl 3,17-4,1) Paulo alerta a comunidade contra os que querem subjugá-la à antiga religião. Reduziam a religião a controle de alimentos. Será que Deus está no estômago? Nós pomos a nossa fé em Jesus morto e ressuscitado. Só.

3a. Evangelho (Lc 9,28-36) Jesus já falou e vai falar da sua paixão. Aqui Lucas coloca a transfiguração. A morte humilhante não é o fim, é a saída. Tudo está na Bíblia, a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias). Os discípulos não escutam.

HOMILIA

A Realidade

Na Alemanha do pós-guerra, o correto, o educado era comer tudo o que ia à mesa. Sobrar algum alimento, dizia-se, era provocar tempestade. Sempre se perguntava quem iria comer o último pedaço, o último bocado. Custa, é difícil.

Entre nós o “educado” é sobrar. Não sobrar daria a impressão de miséria, tanto no sentido de pobreza, como de economia extrema. Moderação, austeridade, controle do próprio consumo parecem pecado. A consequência disso é o desperdício, a porcentagem alta de produtos que vai para o lixo. E já não se sabe mais o que fazer do lixo.

A Palavra

O Evangelho de hoje vem mostrar a realidade (a ressurreição) escondida por trás do aparente fracasso (a cruz). Jesus leva Pedro, Tiago e João para verem na montanha, perto de Deus, a sua verdadeira glória. Jesus não é apenas um profeta a mais como Moisés e Elias. Filho amado de Deus, ele é o Servo Sofredor dos quatro poemas de Isaías (42,1-7; 49,1-6; 50,4-9 e 52,13-53,12). Esse é o assunto que Moisés e Elias, a Lei e os Profetas, conversavam com Jesus.

É difícil entender como a vitória está na derrota, como a glória vem da humilhação, mas a ordem do Pai é que Jesus seja ouvido. Ele conversou com a Lei, o Pentateuco, na figura de Moisés e com os restantes livros do Primeiro Testamento, os Profetas, na figura de Elias. Falavam do seu êxodo, da saída que iria acontecer em Jerusalém. Ele já havia dito isso a Pedro, Tiago e João, mas eles não ouviam.

Ele havia dito também a todos os que o quisessem seguir que o caminho é este: a cruz. Talvez entender que ele seguisse por esse caminho não fosse tão difícil, o difícil é aceitar que o nosso caminho também deve ser o da cruz, o da austeridade. O assunto dá sono aos que estão com Jesus. O Pai, porém, exige: “Escutem o que ele diz!”.

Ao final Jesus está sozinho. Isso pode significar não simplesmente que Moisés e Elias desapareceram, mas também que os discípulos deixam Jesus sozinho no caminho da cruz.

O Mistério

Precisamos repetir sempre a memória do que Jesus fez naquela Ceia derradeira, partindo-se em pedaços para derrotar o mundo dividido em disputas sem fim, assumindo o último lugar para vencer a arrogância humana, que humilha e massacra. Sem isso a gente esquece qual é o caminho. Sem isso, a gente acaba dormindo, sem isso, Jesus fica sozinho, sem a Missa o caminho da cruz não move os cristãos.

Padre José Luiz Gonzaga do Prado (86 anos), mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico em Roma. Atuou em trabalhos de tradução nos Evangelhos de Marcos e de Mateus para as Bíblias Pastoral, da CNBB, Nova Bíblia Pastoral e revisão da Bíblia na Linguagem de hoje.