Por Padre José Luiz Gonzaga do Prado
Os textos bíblicos deste domingo:
1a. Leitura (Gn 12, 1-4a) Abraão, migrante, velho e sem filhos, pode esperar alguma coisa? Significará alguma coisa no futuro? Ouçamos como responde a primeira leitura.
Salmo (33 [32], 4-5.18-20. 22) No Salmo cantamos a ação de graças do justo. Em Deus até os mais fracos podem confiar.
2a. Leitura (2Tm 1,8b-10) As primeiras comunidades já começavam a ser perseguidas. Doutrinas estranhas também ameaçavam entrar nessas comunidades. A palavra de Paulo as anima e orienta, lembrando que o caminho da vida foi aberto pelo Salvador Crucificado.
3a. L. Evangelho (Mt 17,1-9) O episódio que vamos ouvir no Evangelho está pouco antes da subida para Jerusalém, para a cruz e para Deus. Jesus vai falar de sua humilhação e morte. Será este o caminho que Deus quer? A Bíblia confirma? Os discípulos vão entender?
HOMILIA
A Realidade
Na Alemanha do pós-guerra, o correto, o educado era comer tudo o que ia à mesa. Sobrar algum alimento, dizia-se, era provocar tempestade. Sempre se perguntava quem iria comer o último pedaço, o último bocado.
Entre nós o “educado” é sobrar. Não sobrar daria a impressão de miséria, tanto no sentido de pobreza, como de economia extrema. Moderação, austeridade, controle do próprio consumo, parece pecado, é proibido “ficar com vontade”. A consequência disso é o desperdício, a porcentagem alta de produtos que vai para o lixo. E já não se sabe mais o que fazer do lixo.
A Palavra
Jesus está subindo para o confronto final com os inimigos, o complô entre os poderes religioso e civil que vai levá-lo à morte de cruz. Começa a explicar isso, mas Pedro, que acabara de confessar a fé dos discípulos, foi o primeiro a não admitir a idéia de fracasso humano, de cruz, de sacrifício. Jesus que o tinha dito bem-aventurado e inspirado por Deus, agora o chamou de satanás, de empecilho, de inimigo e tentador, e convidou todo o povo a segui-lo até a cruz.
O Evangelho de hoje mostra a realidade escondida por trás do aparente fracasso. Jesus leva Pedro, Tiago e João para verem na montanha, perto de Deus, a sua verdadeira glória. Jesus não é mais um profeta como Moisés e Elias. Filho amado de Deus é o Servo Sofredor dos quatro poemas de Isaías (42,1-7; 49,1-6; 50,4-9 e 52,13-53,12). É difícil entender, mas a ordem do Pai é que Jesus seja ouvido.
É difícil entender que o fracasso aparente leve à vitória, que a humilhação se torne glória, que o sacrifício livremente assumido abra o caminho da vida. Não é fácil engolir que a moderação, a austeridade, a pobreza livremente querida, é que podem salvar o planeta. Parece preferível ficar surdos a essas falas.
Na Primeira Leitura é da fraqueza de Abraão, migrante, velho e sem filhos, que se pode esperar a bênção da vida para a humanidade inteira. E a Segunda Leitura lembra que o caminho da vida foi aberto pelo Salvador Crucificado.
O Mistério
Na Eucaristia celebramos a glória da cruz, a vitória do fracassado, a força do fraco, difícil de engolir. Na pobreza dos sinais, vivemos a riqueza da mesa partilhada, sacramento da humanidade resgatada e do planeta salvo.