Por Padre José Luiz Gonzaga do Prado
Os textos bíblicos desta solenidade:
1a. Leitura (At 2,1-11) Pentecostes é festa dos judeus. Cinquenta dias depois da Páscoa, eles celebram a Aliança do Sinai com a doação da Instrução ou da Lei. A manifestação do Espírito Santo neste dia lembra-nos que ele é a nova lei, escrita no interior de cada um.
Ou então: Em Pentecostes acontece o contrário da torre de Babel. Lá a arrogância e o espírito de competição provocaram a confusão das línguas. Aqui acaba a confusão, pessoas das mais diversas línguas entendem o que dizem os humildes galileus.
Salmo (104 [103], 1-2.29-31.34) Com as palavras do Salmo cantamos o Espírito Santo que transforma a face da terra.
2a. Leitura (1Cor 12,3b-7.12-13) Paulo lembra que todos os dons devem servir para o bem da comunidade. Lembra ainda que a variedade de dons, de ministérios e de atuações não deve dividir, mas unir todos, no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
ou (Rm 8,8-17) Nas comunidades cristãs de Roma havia judeus e não-judeus. Os judeus eram apegados à lei de Moisés, para outros, Jesus acabou com toda aquela lei. Paulo lembra que o cristão tem uma lei, sim, mas uma lei diferente, que é o Espírito.
ou (Gl 5,16-25) Nos conselhos finais desta carta, Paulo convida os cristãos a deixar-se guiar pelo Espírito Santo. Ele coloca de um lado os frutos do Espírito e do outro os frutos daquilo que ele chama de “carne”, os maus impulsos do ser humano.
3a. L. Evangelho (Jo 20,19-23) Na tarde do primeiro domingo após a sua morte, Jesus aparece aos discípulos e dá-lhes o Espírito Santo para que cumpram sua missão de livrar a humanidade do pecado.
Ou (Jo 14,15-16.23b-26) No Evangelho, em seu discurso de despedida, Jesus promete o Espírito Santo, que é o seu Espírito. Ele há de fazer com que o discípulo entenda a cada momento o que Jesus quer dele.
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HOMILIA
A Realidade
Ninguém pode negar que de uns tempos para cá o Espírito Santo entrou com mais força no horizonte religioso dos católicos. Mas o papel que se atribui ao Espírito Santo, muitas vezes não se parece muito com aquilo que os textos do Novo Testamento apontam.
Às vezes o Espírito Santo parece ficar reduzido a provocar emoções fortes, senão um clima de transe ou hipnose coletiva que pode levar a momentos em que todos falam ao mesmo tempo, balbuciando coisas ininteligíveis, numa grande desordem. Fica parecendo uma torre de Babel, onde todos falam e ninguém se entende, imagem perfeita da desordem do nosso mundo.
A Palavra
Pentecostes é festa dos judeus. Cinquenta dias depois da Páscoa, celebram a Aliança do Sinai ou a doação da Lei. Quando os Atos dos Apóstolos colocam a primeira manifestação do Espírito Santo neste dia, querem lembrar-nos que o Espírito é a nova lei, escrita no interior de cada um, como já anunciava o profeta Jeremias (Jr 31,32-33).
Em Pentecostes acontece o contrário da torre de Babel. Lá a arrogância e o espírito de competição provocaram a confusão das línguas, ninguém mais se entendia. Aqui o Espírito acaba com a confusão, pessoas das mais diversas nações e línguas entendem o que dizem os humildes galileus.
Na Segunda Leitura Paulo lembra que todos os dons devem servir para o proveito, não dos indivíduos, mas da comunidade. Lembra ainda que a variedade de dons, de ministérios e de atuações não deve ser motivo de competição, de divisão, mas deve unir todos, no Pai que atua, no Filho que organiza e no Espírito Santo que distribui os dons.
No Evangelho segundo João, que lemos hoje, a doação do Espírito Santo acontece na tarde do domingo de Páscoa. Isso, se não entendermos como fazem muitos, que foi no próprio momento da morte gloriosa de Jesus. “Ele inclinou a cabeça e comunicou o espírito”, a capacidade de amar como ele amou. No capítulo 7,39 o Evangelista já dissera: “Não havia Espírito porque Jesus ainda não tinha sido glorificado”.
O Mistério
Celebramos o amor que não confunde nem divide, mas une os grãos dispersos num só pão, os cachos de uva num só vinho e que, partido e repartido, significam a morte que revela o Amor e comunica o Espírito.
Padre José Luiz Gonzaga do Prado (86 anos), mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico em Roma. Atuou em trabalhos de tradução nos Evangelhos de Marcos e de Mateus para as Bíblias Pastoral, da CNBB, Nova Bíblia Pastoral e revisão da Bíblia na Linguagem de hoje.