Uma das maiores dificuldades que enfrentamos hoje é a de perceber a presença silenciosa de Deus no caminho que, juntos, nós percorremos neste mundo. Em meio aos tantos ruídos, ouvir a voz de Deus, o seu chamado, torna-se quase impossível. Um grande exercício que devemos fazer é o de silenciar o coração. Precisamos silenciar os gritos interiores para ouvir o sussurro divino em nós, tal como Adão e Eva que andavam pelo jardim à brisa da tarde e ouviram a voz do Senhor, como a voz de brisa ligeira que passou por Elias, como Jó que ouviu uma voz, como de brisa leve.
Ao ouvir a voz de Deus, devemos discernir o chamado que ele nos faz. Pois, é requisito indispensável para o discipulado o chamado do Senhor. Assim como São João escreve na sua primeira carta “não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou” (4, 10), podemos afirmar que não somos nós que decidimos ser discípulos de Jesus, mas é ele quem nos convida a ser seus discípulos. Ouvir e discernir a voz do Senhor é a nossa tarefa para segui-lo.
Um exemplo claro do requisito do chamado encontramos no evangelho de Marcos sobre o rico que se dispõe a seguir Jesus. Diante do desejo daquele homem de segui-lo, “Jesus olhou bem para ele, com amor e disse-lhe: ‘uma só coisa te falta: vá, vende tudo o que tens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me’” (10, 21). Notamos haver por parte daquele homem um desejo de seguir o mestre e ganhar a vida eterna. Mas não basta o desejo, Jesus apresenta os critérios para o seguimento do seu caminho e, por fim, realiza o chamado.
É possível perceber a dinâmica da vocação: quando abrimos nosso coração, ouvimos a voz do Senhor, sentimos um impulso de amor que nos leva ao seu encontro, somos chamados por ele e nos dispomos a segui-lo, abandonando tudo o que nos dá falsa segurança, para nos apoiarmos totalmente nele e, a partir dele, com ele e por ele nos tornamos novos, sermos transformados. Assim como Jesus fez com os seus discípulos, é ao longo do caminho que vamos discernindo sobre qual é a nossa missão, vencendo nossas imaturidades e descobrindo o que o Senhor espera de nós no mundo em que vivemos.
Ao olharmos para os discípulos de Jesus, os de ontem e de hoje, contemplamos a beleza da diversidade que nele encontra o perfeito ponto de unidade. Deus conta comigo, como eu sou. Ele conta com você, como você é. Ele nos chama, a cada um, para oferecermos o que podemos oferecer e se compraz com a alegre oferta que fazemos dos frutos de uma vocação realizada. Por isso celebramos e rezamos neste mês pelas muitas vocações sacerdotais, religiosas e leigas, para que, como num belo mosaico, cada qual ocupando o lugar devido, formemos a imagem da Trindade Santa, fonte do nosso chamado, fim último de nosso caminho.
Padre Bruno Moreira
Padre Bruno Moreira, Diocese da Campanha (MG), é licenciado em Filosofia pela FAERPI, bacharel em Teologia pela FACAPA e pós-graduado em História da Arte Sacra pela FDLM. Atualmente, é formador da comunidade propedêutica da Diocese de Campanha.