A memória de Nossa Senhora das Dores é de origem devocional, mas que tem ressonâncias bíblicas. O título de Nossa Senhora das Dores está relacionado a vários outros do mesmo teor: Nossa Senhora da Piedade, Soledade, Angústias, Agonia, Lágrimas, Sete Dores, Calvário ou do Monte Calvário, Divino Pranto, “Beata Maria Virgo Perdulens” e, por fim, “Mater Dolorosa”.
A devoção das dores de Maria, Mãe de Jesus, inspirou artistas, como a Pietà, obra prima de Michelangelo, e peças musicais, com o título de Stabat Mater, inspiradas na Paixão de Cristo segundo São João (Jo 19, 25-27). Grandes compositores como Pergolesi, Pe. Antônio Vivaldi, e Rossini traduziram a dramaticidade do coração sofredor de Maria através de melodias de grande impacto emocional.
A devoção à “Mater Dolorosa” teve início em 1221 na Alemanha em um mosteiro na cidade de Schönau. Posteriormente, em Florença na Itália, a Ordem dos Servos de Maria (Servitas) comemoraram no dia 15 de setembro de 1239 esta memória da Mãe Dolorosa que permanece até hoje no calendário litúrgico. Nossa Senhora, com este título, é padroeira de várias dioceses no mundo e no Brasil, além de cidades e estados. Padroeira de Minas Gerais e do Estado Americano do Mississippi. Os títulos elencados acima fazem referência às Sete Dores de Maria conforme os registros do Novo Testamento.
PRIMEIRA DOR: Profecia do velho Simeão no Templo de Jerusalém. “E a ti, uma espada traspassará tua alma” (Lc 2, 35).
SEGUNDA DOR: Fuga para o Egito. “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes procurará o menino para o matar” (Mt 2, 13).
TERCEIRA DOR: Perda do menino no Templo. “Meu filho, porque agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos” (Lc 2, 48).
QUARTA DOR: O Caminho do Calvário. “Grande multidão do povo o seguia, como também mulheres que batiam no peito e se lamentavam por causa dele” (Lc 23, 27). Aqui, trata-se de uma suposição de que Maria estaria incluída no grupo das mulheres. Segundo o Talmud, mulheres distintas de Jerusalém, preparavam bebidas sedativas para aliviarem os sofrimentos dos condenados. A piedosa tradição da Via-Sacra lembra este encontro na IV estação.
QUINTA DOR: “Stabat Mater”. “Junto à cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena” (Jo 19, 25). Stabat, traduzido por “estava de pé”, é a indicação da fortaleza de uma mãe mantendo-se de pé para sustentar o sofrimento do filho. O chamado “sexo frágil”, quando solicitado na sua condição materna, é muito mais forte do que se supõe.
SEXTA DOR: Nossa Senhora da Piedade ou “La Pietà”. “José de Arimateia, tomando o corpo de Jesus, envolveu-o num lençol limpo e o pôs em seu túmulo novo, que talhara na rocha” (Mt 27, 59 -60). Aqui uma piedosa tradição inclui a cena dolorosa de Maria carregando seu filho nos braços pela última vez.
SÉTIMA DOR: O sepultamento de Jesus. “As mulheres, porém, que vieram da Galileia com Jesus, haviam seguido a José; observaram o túmulo e viram como o corpo de Jesus fora ali depositado” (Lc 23, 55). Apesar de não ser citada explicitamente é de se supor que Maria, que se encontrava ao pé da cruz, estivesse presente até o sepultamento, uma vez que o Santo Sepulcro é bem próximo do lugar da crucificação.
A missão de Maria foi muito difícil. Como mãe, ela também sofreu todas as vicissitudes do seu filho compartilhando com ele o Mistério da Dor e da sua entrega para a redenção do gênero humano. Por isto é chamada de “A MÃE DOLOROSA”!
Padre José Cândido
Pe. José Cândido da Silva é padre do clero de Belo Horizonte, MG.