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Um Comovido Encontro – 2º Conto de Natal

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A segunda guerra mundial tinha terminado, mas as suas dramáticas consequências perduravam. Era o verão de 1948. O jovem padre karol Wojtyla, depois de concluir brilhantemente sua licenciatura em Teologia na Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino em Roma, retornou para Polônia, numa pequena paróquia perto de Krakovia.


Entusiasmado com seu novo trabalho pastoral, Pe. Wojtyla estava atendendo no seu escritório paroquial quando chegou um jovem casal com um menino.


– Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo – ao que Pe. Karol prontamente respondeu com sua possante voz de barítono:


– Para sempre seja louvado, – e logo acrescentou:


– O que vocês desejam, filhos? Já sei. Querem que este menino faça a primeira comunhão?


– Não, padre. Queremos batizá-lo! Mas temos um problema. Ele não é nosso filho.


– Como assim? Ainda nem foi batizado? E porque estão com ele? – Muitas perguntas à espera de respostas para um jovem pároco.


Pediu ao casal que se acomodassem e explicassem a estranha história.


O marido, comovidamente, disse ao padre:


– Nós tínhamos uma família vizinha que era israelita. Os soldados nazistas faziam buscas na vizinhança e levavam os judeus para campos de concentração. O jovem casal, nossos vizinhos, pediram-nos que, caso os nazistas os levassem embora, cuidássemos do filho. Eles foram deportados para Buchenwald e acabaram mortos nos fornos crematórios e nos deixaram esta linda criança.


– Meu Deus, quanto sofrimento! Nossa Polônia enfrentou os horrores do nazismo anti-humano, e agora enfrenta o horror do comunismo ateu. Quando seremos donos do nosso destino? – Exclamou o Pe. Wojtila quase esmurrando a mesa com os punhos cerrados.


– Nós estamos pensando em batizá-lo. O senhor faria isto?

– Não vamos fazer assim. O menino deve permanecer no judaísmo enquanto assim o desejar.


– Ele crescerá como pagão? – A mãe perguntou um pouco surpresa, ao que o pároco respondeu:

– Ele é judeu e vocês contarão a ele a história da sua família e o sofrimento de todos. Os judeus são filhos da Primeira Aliança. Da linhagem judaica veio nosso Salvador Jesus Cristo.


Os pais enviaram, posteriormente, o jovem para o recém fundado Estado de Israel, onde foi educado.


Verão do Ano da Graça do Senhor de 1993. Palácio de verão do Papa em Castelgandolfo. Entre os ilustres visitantes que solicitaram audiência com o Sumo Pontífice, o Papa João Paulo II, estava Yisrael Meir Lau, Rabino-chefe de Israel.


O Rabino e o Papa conversaram sobre o Acordo de Paz que estava sendo discutido sigilosamente havia meses em Oslo na Noruega. A interferência de bastidores da diplomacia vaticana era intensa.


Após as trocas de ideias e sentimentos, em clima muito fraterno, o Rabino Chefe de Israel, contou a história do menino judeu narrada acima. Isto rendeu um diálogo comovente entre o Papa e o Rabino. O Papa perguntou curioso:


– Como o Rabino-Chefe de Israel sabe desta história tão insignificante? – E prosseguiu: – Lembro-me, sim, deste fato, – disse o Papa, e acrescentou sorrindo, – como poderia esquecer-me disto. Eu agi com o coração porque sempre tive muito apreço pela sofrida comunidade judaica polonesa. – O Papa pegou nas mãos do Rabino e sussurrou, suavemente:


– Minha família era inquilina, em Wadowice, de um proprietário judeu. Ele era compassivo conosco quando meu pai atrasava o aluguel pelas dificuldades da guerra. Na pessoa daquele bondoso proprietário serei sempre grato ao Povo da Primeira Aliança.


O Rabino ainda com suas mãos entrelaçadas com as mãos do Papa, respondeu no mesmo tom carinhoso:


– Santo Padre, não foi absolutamente um fato insignificante. Eu devo agradecer muito mais do que aceitar seu agradecimento, pois eu sou aquele menino que Vossa Santidade encaminhou para Israel. Os dois abraçaram-se em lágrimas!

Em 13 de setembro do mesmo ano, reuniram-se nos jardins da Casa Branca em Wahington, o presidente americano Bill Clinton, anfitrião, o chefe do governo de Israel, Yitzahak Rabin e seu ministro das Relações Exteriores, Shimon Peres, e o líder da Organização para Libertação da Palestina Yasser Arafat. O famoso Acordo de Paz de Oslo foi assinado nesta oportunidade.


O encontro dos dois líderes religiosos, um mês antes, tinha sido decisivo para este desfecho feliz para toda humanidade.
O caminho da Paz e da Harmonia entre os povos começa no nosso lar!

Um Natal de Paz para meus leitores!

Pe. José Cândido

Pe. José Cândido da Silva é Pároco em São Sebastião, Região Centro-Sul de Belo Horizonte e Editor Chefe do Katholika.